A Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira (9) em Santa Maria, na Região Central, contra suspeitos de envolvimento em fake news às vésperas da última eleição municipal.
Os suspeitos teriam participado de montagem de vídeos com fatos inverídicos e descontextualizados, envolvendo o então ministro Paulo Pimenta (PT) e a pasta que ele comandava na época, a Secretaria Extraordinária de Recuperação do Rio Grande do Sul.
As gravações acusavam o ministro de beneficiar aliados com doações pós-enchente.
A reportagem teve acesso a vídeos veiculados nas redes sociais no início de setembro, inclusive na propaganda eleitoral da coligação "Todos por Santa Maria", composta pela federação PSDB/Cidadania e os partidos PP, PSB, Republicados e PSD (que venceu a eleição para prefeito naquele município).
Numa das peças publicitárias o locutor fala: "Eles não têm vergonha na cara". Enquanto isso, aparecem na tela o ministro Pimenta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o candidato a prefeito de Santa Maria Valdeci Oliveira (todos do PT).
A narrativa continua mostrando seis caminhões dos Correios usados para transportar donativos, fiscalizados por agentes municipais de trânsito.
Os veículos teriam entregue cestas básicas, fraldas e roupas a uma entidade presidida por um assessor de uma vereadora petista. O vídeo fala que ninguém da Secretaria de Assistência Social do município foi avisado a respeito.
"Era uma doação secreta, comprada com dinheiro público e acertada apenas entre a companheirada do PT... Esse esquema é para beneficiar quem? A gente já sabe", encerra a locução, com imagem do candidato petista Valdeci e do ministro Pimenta.
A Secretaria Extraordinária de Recuperação do Rio Grande do Sul fez representação criminal contra o vídeo, junto à PF, a pedido do então ministro Pimenta. Ele conversou com Zero Hora a respeito e reclama que "tentaram dar ares criminosos a uma doação legítima, feita pelos Emirados Árabes".
O ex-ministro diz que não teve dinheiro público na doação, o que é confirmado pela investigação criminal. E que foi tudo dentro da lei, com nota de transporte.
— Deram a entender que era algo clandestino. Pior que isso: um dos envolvidos na filmagem se passou por servidor público, fiscal do ICMS, para poder examinar uma carreta com os donativos. Uma fraude. Espero o que todo esse episódio seja esclarecido e os envolvidos nesse crime sejam identificados e punidos exemplarmente. Violar uma carga de um caminhão dos Correios é o mesmo que violar uma correspondência. É um crime federal cometido com interesse eleitoral. É um fato muito grave — comenta Pimenta.
O ministro se refere ao fato de que uma carreta foi examinada por alguém que se passou por funcionário público e aproveitou para filmar os donativos. Essa pessoa seria um dos alvos da PF na operação desta quinta.
A ação é desencadeada pelo delegado Arthur Miranda, que não dá detalhes da investigação.
A PF mandou nota confirmando que, no episódio, investiga possível crime de usurpação de função pública, fake news eleitoral e calúnia (atribuir falso crime a alguém). As buscas visam verificar quem combinou a elaboração dos vídeos.
Contraponto
A reportagem da Zero Hora procurou a coligação Todos por Santa Maria, vitoriosa nas eleições de 2024 para prefeito.
A coligação mandou nota, dizendo que "desconhece quaisquer fatos relacionados com possíveis notícias falsas envolvendo os donativos transportados por caminhões a serviço dos CORREIOS. À época, em razão da notoriedade que o fato tomou, a Coligação apenas o relatou na forma da lei ao Ministério Público Eleitoral para apuração".