O livro "Michel Temer, a escolha", lançado essa semana, é uma biografia do poder, escrita com base em entrevistas do ex-presidente ao escritor e professor gaúcho Denis Rosenfield. Os depoimentos foram dados em 2017, durante o mandato, no Palácio da Alvorada, em Brasília. As conversas, também gravadas em vídeo, eram, em geral, precedidas de um almoço que contava com mais um ou dois convidados. Os mais frequentes eram o então ministro Moreira Franco e o marqueteiro de Temer, Elsinho Mouco.
Na obra, prefaciada por Delfim Netto, Temer faz um balanço da sua passagem pelo poder, que começou com o impeachment de Dilma Rousseff, do qual era vice. A frase escolhida para resumir a marca da sua gestão é "como um presidente conseguiu superar grave crise e apresentar uma agenda para o Brasil", uma referência à pauta de reformas que avançou em Brasília.
O entrevistador explica que, apesar da proximidade com o entrevistado, fez todas as perguntas que deveria fazer.
Denis e Temer se conheceram em um evento no Rio de Janeiro, quando o então vice-presidente se apresentou como leitor e admirador dos artigos publicados pelo gaúcho no jornal O Estado de São Paulo. A partir daí, as conversas foram frequentes. Denis, que teve um papel relevante e discreto nos bastidores do governo, relevou à coluna um aspecto até então desconhecido da gestão Temer. O ex-presidente tinha mais proximidade e afinidade com Vladimir Putin, líder russo, do que com seu colega americano, Barack Obama.
Uma noite, durante um jantar em São Paulo, Temer apareceu com um garrafa de vodka, que está para a Rússia como o chimarrão está para o Rio Grande do Sul. "Ganhei do Putin e vou dar para você", disse a Denis, que agradeceu antes de olhar o rótulo com cuidado. Descobriu que a bebida, de ótima qualidade, não era russa, mas polonesa. Nacionalista convicto, Putin deve ter ganho a garrafa e, em função da origem estrangeira, decidiu passá-la ao colega brasileiro. A lógica da política pós-moderna, como se vê, também é líquida.