
Ocorre hoje um novo e importante capítulo no processo de impeachment de Nelson Marchezan. Sua defesa será entregue na Câmara Municipal. A intenção do prefeito é usar o prazo até o fim, acrescentando elementos e dados aos documentos. A diretoria legislativa da Câmara fará plantão até às 18h.
Marchezan tem convicção de que o processo é motivado por interesses eleitorais. “Ainda não caiu direito a minha ficha”, declarou. O fato é que, hoje, a possibilidade do impeachment é concreta. Marchezan não pensa em renunciar, mesmo que isso pudesse significar a manutenção dos seus direitos políticos. Essa possibilidade chegou a ser sugerida a ele, mas não foi sequer considerada.
A determinação de tirar Marchezan do poder é grande, mas existe um fator paralelo que vem sendo levado em conta pelos articuladores da cassação: quanto tempo transcorrerá até que ela ocorra. Legalmente, há um intervalo que vai de 45 a 90 dias até a votação no plenário. Parte desse tempo é engessado por ritos estabelecidos, mas uma outra parte é flexível.
Dois cenários possíveis se destacam. Na hipótese de maior velocidade, o vice, Gustavo Paim, que é pré-candidato à prefeitura, assumiria o cargo interinamente cerca de dois meses antes da eleição. Ganharia visibilidade e, se conseguisse manter a estrutura da prefeitura em funcionamento, especialmente na área da saúde, poderia colher dividendo eleitorais, o que preocupa alguns dos seus concorrentes. Porém, se a eventual saída abrupta de Marchezan causar confusão interna e debandada de quadros, o risco para Paim cresceria, diante de um possível caos administrativo.
No segundo cenário, o de 90 dias, Marchezan ganharia mais tempo para ser prefeito, se defender publicamente e, hipoteticamente, garantir judicialmente algum recurso que o possibilite disputar a eleição, que estaria bem mais próxima. O vice Paim, que está rompido com Marchezan, evita falar publicamente sobre a hipótese de assumir o poder, seja qual for o cenário. Nos últimos dias, aumentou o fluxo de consultas e convites para conversas. Mesmo assim, Paim insiste que, se depender dele, o processo não andará nem mais rapidamente, nem mais devagar, mas sim no tempo determinado por quem nele está envolvido.
Paim enfrenta um dilema. Ao mesmo tempo que prefere não falar sobre impeachment, sabe que, caso ele ocorra, terá de montar rapidamente uma equipe capaz de manter a máquina pública funcionando. Para isso, tem dito a interlocutores que confia na qualidade dos quadros técnicos concursados, muitos deles já em posições de destaque na administração municipal.
Já o presidente da Comissão do impeachment na Câmara Municipal, vereador Hamilton Sossmeier, sabe que o ritmo do processo terá uma profunda implicação política e eleitoral. Ele garante que sua conduta será essencialmente técnica, sem preocupação com eventuais efeitos da menor ou maior velocidade da tramitação, mesmo considerando que “quanto mais rapidamente a questão for definida, melhor para a cidade”. Sereno e discreto, Sossmeier não tem procurado os holofotes e nem buscado protagonismo nos debates. “Quando isso tudo terminar, quero estar com a minha consciência tranquila”, afirma.