Não é por falta de esforço dos gestores públicos e privados. Mas a volta às aulas presenciais é um desafio sobre o qual paira uma série de indefinições e incertezas. Todos os especialistas ouvidos para elaborar esse texto convergem diante da pergunta: quando os alunos e os professores retornarão às salas de aula? "Não sei", afirmam secretários de Educação e diretores. Existem, porém, algumas certezas.
A primeira delas é que as escolas não serão mais as mesmas. Restrição ao acesso dos pais, rodízio dos alunos para que as distâncias sejam mantidas e aulas online – mesmo depois que as escolas reabrirem – farão parte da nova realidade. Nesse mesmo cenário, professores pertencentes aos grupos de maior risco não voltarão às salas de aula tão cedo. Abaixo, as principais dúvidas que ainda precisam de resposta:
1- Como assegurar o cumprimento dos protocolos? Há um consenso entre educadores de que é praticamente impossível obrigar crianças pequenas a usarem máscaras, manterem distância umas das outras, não levarem as mãos à boca e não dividirem materiais didáticos e brinquedos. Seria necessário um tipo de fiscalização que transformaria a escola em uma instituição predominantemente repressora, o que não seria bom para o processo educativo.
2- Como reduzir a diferença entre as escolas públicas e privadas? Mesmo que voltem às aulas no mesmo dia, permanecerá o desafio de garantir o mínimo de igualdade no acesso à tecnologia e aos recursos exigidos nos protocolos publicados pelo governo estadual.
3- Quem será responsabilizado em caso de contaminação? Algumas escolas estudam a obrigatoriedade de assinatura, por parte dos pais, de um documento atestando que estão cientes dos riscos da convivência escolar, enquanto não houver uma vacina contra a covid-19.
4- O que acontecerá com alunos que têm pais ou avós no grupo de risco e vivem com eles nas mesmas casas? Não seria razoável expor essa fatia da população a riscos que podem levar à morte.
5- Os professores concordarão com a instalação de câmeras nas salas de aula? Com a necessidade de rodízio para respeitar a distância mínima entre os alunos, a solução mais razoável é transmitir as aulas online para a metade que estiver em casa. A instalação de câmeras nas salas sempre enfrentou resistência de setores da sociedade, por considerar a medida como invasiva.
6- Como fica quem não tiver internet em casa? Desafio já existente, mas que permanecerá depois, especialmente para escolas públicas.
7- Como serão os recreios? Com aglomerações proibidas, os intervalos terão de ser totalmente remodelados.
8- O que fazer com as crianças antes e depois das aulas, especialmente com aquelas cujos pais chegam mais tarde? Deixar o filho na escola uns minutos a mais, depois da aula, enquanto se desloca do trabalho, era uma prática comum. Algumas escolas mantinham espaços de recreação para esses períodos. Eles não poderão mais funcionar como antes.
9- Se as escolas em regiões de bandeira laranja voltarem antes das de bandeira vermelha, como assegurar o equilíbrio entre os candidatos ao Enem? O governo do Estado lançou iniciativas de apoio aos candidatos. Mas, com alguns recebendo aulas e outros não, seria difícil garantir a igualdade mínima de condições em um sistema que já tem graves desequilíbrios.
10 - Como estabelecer métodos de avaliação dos alunos que levem em conta todas essas transformações? Há uma nova dinâmica pessoal, familiar e cultural que pede novos parâmetros e métodos de avaliação, que levem em conta as peculiaridades do momento sem gerar tensões insuportáveis e nem baixar demais a régua da cobrança.