Converso com pessoas esclarecidas que se sentem incomodadas pelo que qualificam como “onda de pânico” gerada pela imprensa. Compreendo as razões delas. As tintas andam pesadas, as notícias falam em morte e os cenários são sombrios. Sem querer ser defensivo, até porque sei que o impulso de culpar o mensageiro é natural e compreensível, não vejo outra saída além do medo. Sem ele, “seríamos presas ainda mais fáceis”. Recebi a frase ontem do primo e amigo Celso Gutfreind, psicanalista e escritor. Conversávamos sobre o país de uma forma mais ampla e eu dizia a ele sobre o meu temor. “O que faremos disso tudo no futuro?”, digitei. Foi quando ele lapidou a frase já transcrita.
O outro extremo do medo é a negação. Muitas vezes, é mais cômodo não saber. Mas nesse caso, se não houver consciência plena do que acontece na Itália, na Espanha, nos EUA e no Equador, seremos mesmo “presas mais fáceis”.
Existe o meio termo, difícil de calibrar em um país com tantas diferenças culturais e econômicas. Medo, sim. Pânico, não. Aliás, não vi pânico até agora em nenhum lugar. Vejo sim um esforço da maioria da população, uma nova disciplina solidária, uma crença de que tudo isso vai passar. Vejo também dezenas de notícias sobre solidariedade, superação, gratidão, cura e esperança. Tudo para que, acima de qualquer outra coisa, a gente se una a essa corrente lúcida que escuta a ciência e a razão. Medo, sim. Pânico é outra coisa. Pânico é o que sentiríamos se morássemos em Guayaquil, no Equador.
Muita gente já morreu por não ter medo na hora certa.