Fui ontem, pelas 16h, ao Zaffari da Cabral, em Porto Alegre. Precisava comprar alguns itens de alimentação e limpeza. A transformação começou pela entrada. Um funcionário, máscara e luvas, desinfetava com pano e álcool o local onde as mão tocariam no carrinho. Um por um. “Boas compras”, desejou.
Nos corredores, menos gente do que eu esperava. E uma nova espécie de gentileza. As pessoas deixavam as outras passarem na frente, para evitar algum toque eventual. Se alguém demorava diante de uma prateleira, nada de “com licença” e um braço estendido pelo lado. O que vi foi uma espera paciente, a mais de um metro de distância. Havia gente de máscara e pelo menos uma senhora fazendo compras com luvas.
Não faltavam produtos, mas notei uma mudança de estratégia na exposição de alguns deles – especialmente álcool, tanto líquido quanto em gel. Um funcionário ia repondo o estoque aos poucos. A impressão era de que seguia a mesma estratégia de alguns bufês, que oferecem alimentos mais caros em pratos menores e em menor quantidade, para inibir o consumo. Funcionou. Não vi ninguém pegar mais do que dois potes de cada vez.
Foi uma das compras mais tranquilas que fiz nos últimos tempos. Sem esbarrões e nem carrinhos fechando a minha frente. Mas sim, notei uma certa tensão. Nos outros e em mim. Especialmente quando cheguei na sessão dos congelados e, devido à mudança brusca de temperatura, senti vontade de espirrar. “Não, não, não...”, repeti mentalmente, assustado. E mordi meu próprio lábio. Funcionou. Contive o espirro, que certamente espalharia uma onda de susto pelo local.
Na porta automática de saída, um homem que entrava deu dois passos para o lado e, com isso, aumentou a distância entre nós.
Do lado de fora, um grupo de taxistas conversava animadamente, esperando pelos clientes que saíam disciplinadamente. Cheguei em casa, lavei as mãos, passei álcool gel, guardei as compras, lavei as mãos de novo, passei álcool gel de novo. E fui ver a coletiva do presidente com seus ministros. Tempos tóxicos.