
Ouvir bronca do chefe nunca é bom. Ainda mais quando o chefe é o presidente da República. Nos últimos dias, só cresce a minha admiração pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Depois de ouvir de Jair Bolsonaro atacá-lo, dizendo que lhe falta humildade, o principal gestor público da crise no Brasil respondeu com o silêncio. Se fosse mesmo vaidoso, teria pedido as contas, criado uma baita instabilidade no governo e enfraquecido ainda mais o presidente. Mas não. Mandetta parece ter a consciência exata de que não pode desperdiçar energia com o chefe destrambelhado. Há missões mais importantes nas quais investir energia agora.
Paulo Guedes, muitas vezes, adota a mesma postura. Deixa o presidente falar e faz o que tem de fazer. Assim, o governo brasileiro vai se defendendo. Do próprio presidente, cada vez mais desconectado da realidade e, com isso, gerando críticas fora do círculo delimitado pela paranoia palaciana: petistas, comunistas, mídia, ateus e todos os que discordam dele, qualificados randomicamente de petistas, comunistas, mídia ou ateus, mesmo que não sejam. O mundo está assombrado com o destempero do presidente do Brasil.
O ministro Mandetta é a grande surpresa positiva do governo. Une conhecimento científico a uma grande habilidade política. Se comunica bem, mostra empatia e tem liderança. Mais do que isso, demonstra uma elogiável capacidade de calar.