
A crítica não é à manifestação em si. Não há nada errado em apoiar um presidente eleito democraticamente e, indo ainda mais fundo, em criticar o Congresso e o STF. Isso é parte da democracia, desde que atendidos os requisitos legais – neles não se incluem o fechamento de tribunais e parlamentos.
O que surpreende é os apoiadores de Jair Bolsonaro – e o próprio presidente – julgarem que, apesar de tudo, protestar é mais importante do que impedir a disseminação de um vírus que pode matar, especialmente pessoas mais velhas e doentes.
A radicalização da política e o consequente abalo de algumas funções cognitivas básicas são ingredientes de uma receita explosiva.
Milhares de brasileiros, entre eles um que deveria ser o primeiro a dar o exemplo, tiveram tempo de refletir e, mesmo assim, julgaram que se aglomerar em praças e ruas, contrariando especialistas do mundo inteiro, era a coisa certa a fazer. Todos eles sabiam da existência do coronavírus e dos riscos. Apesar disso, colocaram a epidemia em segundo plano em nome de uma manifestação política.
O que aconteceu no final de semana explica muito sobre o Brasil. Gritar é mais importante do que ouvir, porque se as pessoas que se amontoaram país afora tivessem parado para escutar, jamais teriam insistido na idiotice coletiva que protagonizaram no momento em que o mundo inteiro se mobiliza na direção aposta.
Em tempos de crise, presidentes e líderes de verdade são os primeiros a dar o exemplo. Jair Bolsonaro parece acomodado em uma fórmula absolutamente rasteira de fazer política. Faz a coisa errada sabendo que será criticado. Então, se vitimiza e critica os críticos. É um ciclo crônico e longo, bem mais do que o do coronavírus.