A penitenciária de Canoas era o símbolo de um sistema que poderia dar certo. Construída para ser modelo, não recebia presos ligados a facções e nem condenados considerados mais difíceis de recuperar. O incentivo ao trabalho e a disciplina eram pilares que ainda continuam lá, mas sem a mesma solidez. O incêndio de domingo lança dúvidas gigantescas sobre a gestão desse complexo prisional, que até bloqueador de celular tem. A reação dos presos à instalação de um scanner corporal, equipamento de segurança capaz de detectar a entrada de drogas e armas, é a luz vermelha que não deixa opção: ou o governo reage, ou perde o pulso.
Pressionado por falta de vagas nas cadeias e por presos dentro de viaturas, o Estado acaba destinando a Canoas bandidos que não deveriam estar lá, entre eles viciados e com perturbações mentais.
Se existe algo a ser observado com olhar mais esperançoso, é o fato de que, em geral, ninguém bota fogo naquilo que é seu. O incêndio de domingo é um sintoma de que os presos ainda não acham que a cadeia é sua. Mas a queda de braço entra, agora, em um novo e delicado momento.