Há um quase consenso planetário sobre os benefícios das ciclovias para as grandes cidades: menos poluição, mais exercício físico e menos engarrafamentos são alguns pontos que pesam a favor do pedal. Porto Alegre faz parte dessa onda. Até que uma via exclusiva para bicicletas é instalada na rua em que moramos. Aí, começa a gritaria. É o que vem acontecendo com boa parte dos moradores da avenida Nilo Peçanha. Não há aqui qualquer sentido de reprovação à mobilização protagonizada por eles, apenas a constatação de que é difícil a gestão dos espaços compartilhados.
Até mesmo ações na Justiça vêm sendo estudadas para remover a ciclovia da Nilo. Os argumentos são pesados: redução das vagas de estacionamento – fato rebatido tecnicamente pela EPTC – e aumento do perigo de acidentes. Esse segundo faz algum sentido. O carona precisa cuidar ao abrir a porta, sob pena de atingir um ciclista – ou ser atingido por ele.
Faço aqui um mea culpa. Há alguns anos, quando ainda morava no bairro Três Figueiras, descobri que uma feira passaria a funcionar em uma praça exatamente na frente da minha casa. Participei de um movimento que pediu o deslocamento das bancas, por medo do barulho sábado pela manhã exatamente abaixo da janela do meu quarto. Não sei se por isso ou por algum outro motivo técnico, a feira acabou instalada do outro lado.
Era sábado pela manhã – eu acordo cedo – e eu voltava para casa carregado de sacolas de tomates, bananas, laranjas e alfaces orgânicos. Me peguei reclamando comigo mesmo do peso e da distância. Daí me lembrei que eu mesmo havia pedido para que assim fosse. Bem feito para mim.