Não é compreender as contas e o funcionamento da máquina. Nem formar e equipe e construir uma base de sustentação nos parlamentos.
A transição mais difícil, na cultura política brasileira, é a transição entre o candidato e o presidente – ou o governador. É aquela hora em que as promessas e os sonhos do palanque precisam se transformar em realidade. É a hora em que a onipotência cobra a conta. É a hora dos recuos e dos sobressaltos narcísicos diante das primeiras críticas.
É algo bem peculiar nosso, porque aqui as campanhas eleitorais são recheadas de apelos emocionais. Os eleitores gostam de musiquinha, de abraço em criança pobre e de imagens da família feliz.
Durante a campanha, os candidatos se xingam, falam mal dos políticos tradicionais, condenam o clientelismo e o toma lá da cá que, depois da eleição, muda de nome. Vira “construção de uma base de apoio” e “negociação pela governabilidade”. Mas só para os que se elegem. Os que não se elegem continuam chamando de toma lá dá cá.
Bolsonaro, por exemplo, não negocia apoio com os partidos, mas com as frentes suprapartidárias. Já nomeou pelo menos três ministros indicados por elas. Isso é toma lá da cá?
Leite demora para anunciar seu secretariado. Perde tempo precioso da transição em Oxford, esperando pela votação do ICMS na Assembleia. E, nesse ponto, talvez tenha faltado algo na minha análise. Escrevi que Leite está trocando apoio por cargos. Ao que tudo indica, Leite está trocando apoio por expectativa de cargos, deixando as nomeações em suspenso e alimentando esperanças de espaço e de poder. Faz diferença? Isso é um novo jeito de fazer política? Ou isso é normal e até saudável?
Seria um grande serviço ao país, ao Estado e à democracia se os eleitos tivessem, durante a campanha eleitoral, a mesma convicção que têm agora sobre as respostas.