Trocar cargos pelo apoio à prorrogação do ICMS por dois anos é uma estratégia eficiente e arriscada. Eficiente porque aumenta a chance de aprovação da medida, que deve ser votada pela Assembleia no dia 18. Perigosa porque inaugura no governo, mesmo antes da posse, o velho e surrado toma lá dá cá.
Seria ingenuidade acreditar que as relações com o Legislativo, subitamente, passassem a ser pautadas apenas pelos interesses do Estado e pelas convicções sobre o mérito dos projetos do Piratini. Mas atrasar a indicação do secretariado, quando a transição é delicada e complexa, é uma ideia pouco luminosa, por mais relevantes que sejam os fins. Ainda mais que, no caso do ICMS, quem pagará a conta não é Executivo nem Legislativo e sim, como sempre, o cidadão.
No âmbito federal, Jair Bolsonaro deu uma maquiada nessa prática e, em vez de negociar com as siglas, escolheu as frentes suprapartidárias, como a da agricultura, da segurança e a evangélica. Apesar dos riscos, está sendo mais eficiente do que Leite na montagem da sua equipe e ganhando preciosos dias de erros e acertos na transição.
É sintomático que o maior investimento de esforços novo governo estadual seja para manter a arrecadação e não para anunciar cortes e otimização de despesas. O jovem e energizado Eduardo Leite dá o seu recado: cargos no governo rimam com apoio na Assembleia. O problema é o vice-versa. Leite arma cedo demais uma armadilha da qual, mais cedo ou mais tarde, será vítima.
O apetite de boa parte dos políticos, quando atiçado, se torna insaciável.
Leia a réplica de Leite:
Em relação a análise publicada na edição de Zero Hora desta quinta-feira (29) pelo jornalista Tulio Milman o governo eleito contesta as informações trazidas pelo artigo, também reproduzido no site do jornal.
A ocupação de espaços no futuro governo nunca esteve condicionada à votação de matérias na Assembleia Legislativa, tampouco é verdade que a aprovação da prorrogação das alíquotas do ICMS ensejará a "troca de cargos por apoio", como citado.
O trabalho do governador eleito Eduardo Leite, acima de tudo, está pautado pelo interesse público. Neste momento, as atenções se voltam à transição e à prorrogação das atuais alíquotas de ICMS pelo prazo de dois anos, cuja análise deverá ocorrer nos próximos dias na Assembleia Legislativa, bem como na busca dos melhores profissionais para a formação da equipe de governo.
Essas ações, entretanto, não possuem relação alguma e sua utilização como moeda de troca é veementemente refutada pelo governador eleito.