Decidi em quem vou votar para presidente. Naquele que prometer investir bilhões de dólares no desenvolvimento de uma bomba de destruição em massa, capaz de fazer Hiroshima e Nagasaki pareceram meras referências distantes de dor e violência. Pode ser atômica, mas minha preferência recai sobre algo mais imponente, que renda manchetes apocalípticas no New York Times, no Pravda e no China News. E no Clarín também. É sempre bom acrescentar um vizinho preocupado ao enredo.
Temos talento e dinheiro de sobra. A Lava-Jato provou que é possível sumir com zilhares de dólares durante anos e ninguém notar. Bomba pós-atômica, já! Não quero vê-la explodindo. Na verdade, nem precisa ser fabricada. O que interessa é convencer Donald Trump de que temos um botão capaz de competir com o dele. Depois disso, é correr pro abraço.
Durante alguns meses ele ameaçará nos destruir. Fará manobras militares conjuntas com a Argentina. Retalhará comercialmente, se encontrar algum setor onde esteja em desvantagem. Nós resistiremos. Botaremos a língua para Washington, promoveremos paradas militares nas nossas ruas e testaremos mísseis dizendo que eles são capazes de alcançar o Texas - Miami é muito perto e há o risco de Trump e a maioria dos americanos se lixarem para as hordas de latinos que infestam a Flórida.
Quando a tensão chegar ao ápice, pediremos à Gisele Bündchen que visite secretamente a Casa Branca com uma proposta de paz. Cheia de condições, é claro. Exigiremos um vídeo em computação gráfica projetando um Brasil sem miséria e sem favelas. Queremos elogios, muitos elogios. E, por fim, marcaremos uma cúpula para Punta Del Este, com a presença de Trump e do seu colega brasileiro.
A receita de Kim Jong-un, consagrada durante a semana, não é nova. Já foi usada pelo Irã e, mais recentemente, levou de roldão até a Federação Argentina de Futebol, que cancelou uma partida amistosa com Israel depois uma avalanche de ameaças de fogo e violência vindas de grupos radicais.
Imagino o Dalai Lama assistindo a tudo isso. A língua mais falada no mundo não é o mandarim nem o inglês. A língua mais falada – e compreendida – no mundo é um idioma sem palavras, mas cheio de gestos.