* Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e pesquisador da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
Quando nos lembramos da bomba atômica, qual a imagem que nos vem à cabeça? Geralmente, recordamos de um enorme cogumelo de fumaça. Mas seria esta a imagem que ficou gravada na memória daqueles que sobreviveram ao ataque nuclear?
Desde o final da II Guerra Mundial (1939 - 1945), a bomba atômica e seus efeitos tornaram-se motivos de discussão em diferentes sociedades. As cidades de Hiroshima e Nagasaki, atingidas em 6 e 9 de agosto de 1945 respectivamente, mostraram a todos o poder de destruição de uma bomba nuclear. O mundo inteiro ficou assustado e perplexo com a novidade. O próprio Japão não sabia ao certo que arma era aquela. A manchete do jornal Asahi Shimbun, no dia 8 de agosto, foi: "Hiroshima atingida por um novo tipo de bomba". Afinal, qual o poder de destruição de uma bomba atômica? Qual o impacto social daquele novo tipo de armamento? Como a ameaça de um novo tipo de guerra poderia provocar o fim da humanidade?
A cidade de Hiroshima foi atingida por uma bomba que marcou a era atômica no mundo e inaugurou uma nova fase da história mundial: a Guerra Fria (1945 - 1991). A disputa político-ideológica e militar entre as duas grandes potências daquele período (Estados Unidos e União Soviética) alterou, de maneira significativa, as bases das relações internacionais. O mundo inteiro foi marcado pela sombra de uma nova guerra mundial, que, em determinados momentos, pareceu realmente prestes a acontecer. As armas nucleares intensificaram ainda mais o temor de um conflito internacional, principalmente, por não ser possível calcular suas proporções. Os historiadores apontam que, durante a Guerra Fria, o confronto direto não aconteceu, mas por cerca de 40 anos pareceu uma possibilidade diária. Para o historiador Edward Thompson, a sua geração se habituou à expectativa de que a própria continuidade da civilização era problemática.
É importante destacar que, desde que se iniciaram os trabalhos para a fabricação da bomba atômica (Projeto Manhattan, 1942), Niels Bohr, um dos descobridores da física nuclear e Prêmio Nobel, escreveu que estava sendo criada uma arma de potência sem precedentes, que modificaria, completamente, as condições de todas as guerras. Advertiu ainda que, caso não se realizassem, de imediato, acordos para o controle do emprego dos novos materiais radioativos qualquer vantagem temporária, por maior que fosse, poderia ser superada, constituindo uma ameaça permanente à civilização.
O temor de Bohr não era infundado. As armas atômicas tinham um poder de destruição jamais visto na história. Contrariamente às armas convencionais, baseadas nas reações químicas das substâncias explosivas, a explosão nuclear tem múltiplos efeitos. Entre eles: onda de choque (brusco deslocamento de grande massa de ar, que se choca com tudo aquilo que se interponha em seu caminho); irradiação luminosa (emissão de luz que provoca intenso calor); radiação penetrante inicial (formada principalmente de nêutrons e radiações gama); e radiação radioativa residual (formada pela transformação de vários elementos).
Logo em seguida à explosão nuclear, surgiu um intenso clarão da aquecida e luzente zona de ar ionizado: a bola de fogo. A radiação da bola de fogo compreende as radiações que se propagam à velocidade da luz. Por isso, a radiação luminosa atua sobre as pessoas e à sua volta antes da onda de choque. A temperatura da radiação da zona luminosa chegou entre 5,7 mil e 8,6 mil graus Celsius.
Os efeitos da bomba atômica são inúmeros. As cidades de Hiroshima e Nagasaki, principalmente a primeira, ficaram arrasadas. Além de milhares de mortos, houve também a ocorrência de lesões traumáticas graves, queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus pelo corpo, queimadura dos órgãos da retina, consequências radiológicas, profunda deterioração da base material e técnica de suas cidades e descenso da economia. É preciso destacar ainda a fome e surtos epidêmicos de determinadas doenças (tuberculose, disenteria, hepatite etc.), bem como o surgimento de numerosas doenças de alterações psíquicas e psicossomáticas.
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Uma parte do que se sabe, hoje em dia, sobre os efeitos da bomba atômica, não vem dos laboratórios, onde são realizados testes com radioatividade. Mas, sim, daqueles que conseguiram sobreviver aos horrores de Hiroshima e Nagasaki. Os hibakushas - palavra japonesa que significa "expostos à bomba" - conheceram de perto, ou dizendo da maneira correta, de baixo, as terríveis consequências de uma guerra nuclear. Nesse sentido, é preciso refletir sobre aquilo que entrou para o senso comum da história: a imagem da explosão da bomba atômica como um cogumelo gigante de fumaça. Dependendo do ponto de vista, ou melhor, dependendo do lugar em que a pessoa estivesse em relação à explosão da bomba, não era um cogumelo que seria visto. No que concerne a essa imagem, os hibakushas têm outra versão. Como eles dizem, a bomba atômica vista de baixo não é o cogumelo de fumaça, é o clarão.
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