Das três encarnações do Homem-Aranha nos cinemas, a de Andrew Garfield foi a que durou menos tempo — houve apenas duas aventuras, lançadas entre 2012 e 2014, enquanto Tobey Maguire estrelou uma trilogia, de 2002 a 2007, e Tom Holland já vestiu o uniforme do super-herói da Marvel em seis filmes (metade deles solo) desde 2016. Mas não faltam poderes a O Espetacular Homem-Aranha (2012), que vai ao ar neste domingo (26), às 12h30min, na Temperatura Máxima da RBS TV.
Escrito por James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves a partir das histórias em quadrinhos do personagem criado por Stan Lee e Steve Ditko, o filme foi dirigido por Marc Webb, à época conhecido pelos clipes de bandas como My Chemical Romance, Green Day e Maroon 5. Como se espelhasse uma teia de aranha, o roteiro interliga uma série de personagens e eventos. Na infância, Peter Parker é deixado aos cuidados de tia May (Sally Field, Oscar de melhor atriz por Norma Rae e Um Lugar no Coração) e tio Ben (Martin Sheen, seis vezes indicado ao Emmy pelo seriado The West Wing) — o pai, funcionário da Oscorp (a empresa de Norman Osborn, futuro vilão Duende Verde), ameaçado, precisa fugir.
Já adolescente, na pele de Andrew Garfield, o rapaz procura desvendar esse desaparecimento. Descobre que seu pai estava envolvido em um projeto com aranhas desenvolvidas em laboratório, ao lado do cientista Curt Connors (Rhys Ifans, da comédia romântica Um Lugar Chamado Notting Hill e da série House of the Dragon) — que, como os leitores dos gibis sabem, vai se transformar no Lagarto (pena que no filme o vilão se mostre um barulhento monstro gerado em computação gráfica).
Completando a ciranda, quem trabalha como estagiária de Connors na Oscorp é Gwen Stacy, a paixão platônica de Parker na escola, interpretada por Emma Stone, que depois se tornaria ganhadora do Oscar de melhor atriz por La La Land, além de disputar o prêmio de coadjuvante por Birdman e por A Favorita.
Garfield, que dois anos antes tinha feito o papel do brasileiro Eduardo Saverin em A Rede Social e mais tarde concorreria ao Oscar de melhor ator por Até o Último Homem e por Tick, Tick... Boom!, é o grande trunfo de O Espetacular Homem-Aranha. Na época com 28 anos, mas cara de 18, o ator estadunidense transmite convincentemente a inaptidão de Peter Parker para as relações humanas, sua alegria infantil diante das novas habilidades e sua fúria vingativa contra o assassino de um ente querido — e também sabe emprestar ironia e sarcasmo ao Aranha.
Entre os coadjuvantes, vale mencionar que o capitão Stacy (Denis Leary) faz as vezes do impagável J. Jonah Jameson (JK Simmons) da trilogia original: é a, digamos, autoridade que empreende campanha contra o aracnídeo — e também uma das veias cômicas do filme (a tirada sobre Tóquio é hilária). Já Stan Lee (1922-2018), que sempre fazia pontinhas nas adaptações para o cinema de personagens da Marvel, ganhou uma merecida reverência, em uma sequência mais extensa e mais criativa do que o habitual.
Por falar nos gibis, O Espetacular Homem-Aranha comete o pecado de não citar, ipsis litteris, a frase-mantra do Aracnídeo: "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Mas é bastante fiel ao espírito dos quadrinhos da Marvel, refletindo sobre as delícias e as torturas do universo adolescente. E o filme opera isso de modo até cruel, logo, bem realista.