A Tela Quente desta segunda-feira (20), na RBS TV, oferece um banquete sul-coreano para os apreciadores daquelas cenas de ação que provocam espanto e dúvida no espectador — como eles filmaram isso? Duvido que os atores não tenham se machucado de verdade!
O filme em questão, que vai ao ar a partir das 23h45min, é A Vilã (2017), inédito na televisão aberta brasileira. É o quarto longa-metragem dirigido por Jung Byung-gil, que estreou na carreira fazendo um documentário sobre cinco jovens que tentam se tornar dublês, Action Boys (2008). Depois, ele lançou Confissão de um Assassinato (2012) e, mais recentemente, assinou Carter (2022, disponível na Netflix), sobre um agente secreto desmemoriado que combate um exército de inimigos, em uma trama que inclui: um massacre em uma casa de banho; uma sequência de perseguição motociclística e combates corpo a corpo ambientados em três furgões emparelhados; um balé no céu seguido de uma pancadaria em um caminhão carregado de porcos; e um "helicóptero-borboleta".
A selvageria e a loucura de Carter foram muito bem ensaiadas em A Vilã, que já começa em ritmo alucinante. Até demora um pouquinho para entendermos o que está acontecendo, pois a câmera assume o ponto de vista de uma pessoa que invadiu um lugar e passa a matar todo mundo que encontra pela frente, ora com arma de fogo, ora com uma faca, ora com o que estiver à mão — ou as próprias mãos. Sim, se ainda não ficou claro, convém avisar que a Tela Quente desta segunda tem altas doses de violência, mas é tudo de mentirinha, como em um videogame. Aliás, vem de jogos como Call of Duty e Counter-Strike o estilo primeira pessoa dessa abertura em plano-sequência, que também remete a filmes como Oldboy (2003) — a matança no corredor parece ser uma homenagem a esse clássico sul-coreano sobre vingança.
A propósito, A Vilã não tem pudores de exibir suas referências, que não se limitam ao cinema asiático (percebe-se acenos a Kill Bill, de Quentin Tarantino, e à franquia John Wick). A mais notável, e francamente declarada pelo cineasta, é ao filme francês Nikita: Criada para Matar (1990). Byung-gil disse que se inspirou no título dirigido por Luc Besson, ao qual ele assistiu quando tinha 10 anos, para contar a história de Sook-he, uma menina que, após testemunhar o assassinato do pai, acaba treinada para virar uma assassina profissional. Quando adulta, a personagem é interpretada com gana por Kim Ok-bin e, a certa altura, vai ser chamada por outro nome, Chae Yeon-soo.
Falando nisso, convém dar mais um aviso: com trocas de identidade e alternância entre o presente e o passado, a trama de A Vilã pode ser confusa. Se bem que, em parte, essa confusão é intencional: Sook-he tem lacunas na sua memória e está rodeada por personagens que fingem, mentem, escondem quem realmente são. O importante é que, ao ser, digamos, recrutada pela agência de inteligência da Coreia do Sul, a protagonista aceita um acordo que pode lhe dar a liberdade, mas que termina por desencadear lembranças traumáticas e a despertar sua busca por vingança.
No caminho, Sook-he/Chae Yeon-soo vai fazer caírem queixos, tanto os de seus oponentes quanto os dos espectadores, maravilhados por intensas cenas de ação em espaços confinados e por ensandecidas perseguições automobilísticas. Se você estiver no estado de espírito para assistir a um balé sangrento, por vezes a exuberância técnica (que inclui ângulos inacreditáveis e mudanças de perspectiva em meio às lutas e aos tiroteios) e o abraço ao absurdo poderão provocar um sorriso ou mesmo uma risada — como eles filmaram isso? Duvido que os atores não tenham se machucado de verdade!