Dois filmes de ação protagonizados por mulheres são atrações da RBS TV na virada de domingo (6) para segunda-feira (7). À 0h30min, a faixa Domingo Maior exibe Atômica (Atomic Blonde, 2017), com Charlize Theron. Depois, às 2h15min, o Cinemaço apresenta Kill Bill: Volume 1 (2003), com Uma Thurman.
Dirigido pelo estadunidense David Leitch, Atômica o filme tem algumas das mais impressionantes cenas de ação do cinema contemporâneo. Não é por acaso. Leitch, cineasta de Deadpool 2 (2018), é um ex-dublê que resolveu virar diretor para mostrar como se faz. Seguiu o rumo de Chad Stahelski, por exemplo, realizador de De Volta ao Jogo (2014), o primeiro capítulo da franquia na qual Keanu Reeves interpreta o assassino profissional John Wick. Ajudou a abrir caminho para Sam Hargrave, coordenador de dublês do próprio Atômica, que estreou atrás das câmeras com o intenso Resgate (2020).
Não é por acaso, parte 2: depois de dar tiro, soco e pontapé e pisar no acelerador em Mad Max: Estrada da Fúria (2015), Charlize Theron tornou-se, aos 40 e poucos anos, uma estrela dos filmes de ação. Em Atômica, ela mandou ver, tanto que teve dois dentes quebrados. Pouco se comparado ao que acontece com ela em cena: à medida que a trama se aproxima do final, sua personagem vai ficando com o corpo cheio de hematomas e inchaços, além dos cortes no rosto.
Sensualizando bastante, Charlize encarna Lorraine Broughton, agente inglesa mandada para Berlim na semana da queda do emblemático muro da cidade alemã, em 1989. No meio das manifestações políticas, ela precisa localizar um espião russo que tem em seu poder uma lista de agentes ocidentais. Para ajudá-la, conta com um colega inglês (James McAvoy) e uma misteriosa espiã francesa (Sofia Boutella).
O enredo traz o característico jogo de verdades e mentiras do gênero, mas as coreografias dos combates corpo a corpo são surpreendentes. Às vezes, convém avisar, revelam-se espantosas por conta da brutalidade.
Por fim, também vale destacar a trilha sonora, recheada por canções dos anos 1980. Podemos ouvir 99 Luftballons, da alemã Nena, e Father Figure, do inglês George Michael, assim como covers de Blue Monday (New Order, pelo Health) e Der Komissar (Falco, pelo After the Fire). E ainda tem Cat People (David Bowie), Cities in Dust (Siouxsie & The Banshees), I Ran (So Far Away) (A Flock of Seagulls), London Calling (The Clash)...
A trilha sonora também um destaque em Kill Bill, afinal, este é um filme de Quentin Tarantino. Aqui, o cineasta oferece uma mistura de Bruce Lee, séries policiais dos anos 1970, faroeste italiano, mangás e o que mais houver de bacana na cultura pop.
Com a peculiar estrutura fragmentada e os famosos diálogos disparatados, o filme conta a história de uma assassina profissional: a Mamba Negra, agora conhecida como A Noiva e vivida por Uma Thurman. No dia de seu casamento, em uma igrejinha do Texas, ela é vítima de um massacre ordenado por seu ex-chefe — o Bill do título, interpretado por David Carradine, astro da série de TV Kung Fu na década de 1970. Sobrevive e, após quatro anos em coma, busca sua vingança no fio afiado de uma espada samurai.
As cenas de violência entraram para a história, mas não pela crueldade. O balé da pancadaria, o sangue falso que jorra feito chafariz dos corpos mutilados pela Noiva, a filosofia barata dos diálogos, a gritaria e as caretas dos capangas distanciam Kill Bill do mundo real e o aproximam de um desenho animado — daí o recurso do anime para contar a trajetória de O-Ren Ishii (personagem de Lucy Liu).
O prazer de assistir a Kill Bill aumenta proporcionalmente ao conhecimento que se tem do universo reverenciado por Tarantino. O macacão usado pela Noiva, igual ao que Bruce Lee vestiu em O Jogo da Morte (1978), as máscaras e a música do seriado de TV Besouro Verde, trechos de músicas e a presença de astros dos filmes de luta orientais são as pistas mais evidentes da brincadeira. Que em 2004 ganhou encerramento no menos frenético e mais verborrágico Volume 2.