Se o feriado de Corpus Christi, nesta quinta-feira (16), e o iminente fim de semana não abrem tanto tempo na agenda para maratonar uma série, que tal escolher um filme novo?
Indo da animação infantil aos bastidores da indústria pornô, a lista abaixo traz apenas títulos que estrearam no cinema ou nas plataformas de streaming do finalzinho de maio para cá — reforço um aviso dos textos: os elogiados Pleasure (2021) e Cha Cha Real Smooth (2022) só entram em cartaz na sexta (17).
Estes dois filmes estão entre os quatro que ainda não vi, mas recomendo assim mesmo. Os demais eu já assisti — clique nos links para saber mais.
Taxi Driver (1976)
Não é novo — aliás, trata-se de um clássico —, mas entra na lista porque foi adicionado no começo de junho ao catálogo da Netflix. A segunda parceria do cineasta Martin Scorsese com o ator Robert De Niro ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e concorreu em quatro categorias do Oscar: melhor filme, ator, atriz coadjuvante (Jodie Foster, que tinha apenas 13 anos quando atuou) e música original, em uma indicação póstuma de Bernard Herrmann, o mesmo de Cidadão Kane (1941) e Psicose (1960). Na trama escrita por Paul Schrader, De Niro interpreta Travis Bickle, um veterano da Guerra do Vietnã que tenta se recompor existencialmente e socialmente dirigindo um táxi pelas madrugadas de Nova York. O contato com o submundo da cidade desperta nele o isolamento e a revolta. Cada vez mais paranoico, Travis, ao mesmo tempo, se transforma em motor e vítima de um ciclo de violência, encarnando um amoral anjo vingador que vê numa prostituta de 12 anos a chance de redenção. (Netflix)
Dreamland: O Massacre da Wall Street Negra (2021)
Um capítulo tão traumatizante quanto escondido da história do racismo nos Estados Unidos já havia sido ficcionalmente reconstituído na abertura da minissérie Watchmen (2019): a chacina da chamada Wall Street Negra, na cidade de Tulsa, no Oklahoma, em 1921. O rico distrito de Greenwood foi destruído por uma multidão branca, incluindo membros da Ku Klux Klan, e mais de 300 negros morreram. Sob o silêncio de políticos e da imprensa, o terrível recado dado à população afroamericana acabou praticamente apagado dos registros locais, estaduais e nacionais. Foi somente em 1996 que o Massacre de Tulsa virou alvo de uma investigação formal no Oklahoma. Agora, a diretora Salima Koroma, de Bad Rap (2016), apresenta um documentário sobre o terrível incidente. Vou assistir. (HBO Max)
Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental (2021)
Se o título do ganhador do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2021 não for um alerta suficiente, convém avisar aos espectadores mais pudicos que resolverem assistir ao filme romeno: Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental começa mostrando o vídeo da transa de um casal — incluindo masturbação, felação e penetração — que acabou viralizando na internet, para a desgraça solitária da personagem feminina, a professora de escola interpretada por Katia Pascariu. O diretor Radu Jude divide a trama em um prólogo, três partes e um epílogo, dosando humor absurdo, comentário político e experimentação formal. (Em cartaz na Sala Paulo Amorim, às 18h30min)
Pleasure (2021)
Este eu ainda não vi e só estreia na sexta-feira (17), no MUBI, mas vem carregado de elogios. Em seu primeiro longa-metragem, a diretora sueca Ninja Thyberg adapta um curta que ela realizou em 2013. A sinopse diz o seguinte: "Linnéa (encarnada pela novata Sofia Kappel), de 19 anos, deixa a vida em uma pequena cidade da Suécia para Los Angeles com o objetivo de se tornar Jessica, a próxima grande estrela pornô do mundo. Mas o caminho acaba sendo mais acidentado do que ela imaginava". Segundo as críticas, Pleasure expõe os bastidores da indústria do sexo explícito sem idealismo, refletindo a cultura do estupro e a da pedofilia integradas à sociedade. (MUBI)
Arremessando Alto (2022)
Apesar de eu não ter curtido a tradução do título e de achar bastante discutível a escalação de um jogador branco (afinal, negros representam cerca de 75% dos atletas na NBA), recomendo o filme dirigido por Jeremiah Zagar — especialmente se você é fã de esportes. Nesta comédia dramática, Adam Sandler volta a ter um bom desempenho, como em Embriagado de Amor (2002) e Joias Brutas (2019), no papel de um caçador de talentos do time Philadelphia 76ers que viaja o mundo à procura de um novo craque para a liga norte-americana de basquete. Ele vai encontrar Bo Cruz, vivido por Juancho Hernangómez, que atua na seleção espanhola e na equipe do Utah Jazz. (Netflix)
Cha Cha Real Smooth: O Próximo Passo (2022)
Outro filme que só entra em cartaz na sexta (17), na Apple TV+, mas que indico porque chega precedido de críticas e positivas e prêmios — levou o troféu de melhor drama na escolha do público no Festival de Sundance e o de Directors to Watch (equivalente a cineasta revelação) na mostra de Palm Springs. Quem dirige, escreve e estrela Cha Cha Real Smooth é Cooper Raiff. Seu personagem é um universitário recém-formado que estabelece uma amizade com uma jovem mãe (papel de Dakota Johnson) e a filha dela, Lola (vivida por Vanessa Burghardt), uma adolescente autista. (Apple TV+)
Emergência (2022)
Eis um ótimo filme que pode passar despercebido. Está disponível em uma plataforma de streaming que não costuma ser tão badalada. O diretor, Carey Williams, e os atores (RJ Cyler, Donald Elise Watkins e Sebastian Chacon) não são muito conhecidos no Brasil. A sinopse também não ajuda muito: "Prontos para uma noite de festas lendárias, três estudantes universitários terão de pesar os prós e os contras de chamar a polícia quando deparam com uma situação inesperada". Parece que vamos assistir a mais uma comédia juvenil com elementos de suspense. Essa impressão é reforçada no primeiro diálogo, no campus de uma universidade, onde o baladeiro Sean provoca o certinho Kunle a respeito de uma garota. Mas não demora para que a gente perceba que Emergência é um filme diferenciado. Aliás, o fato de que esses dois personagens, Sean e Kunle, são negros já deveria acender um sinal de alerta: o tema, trabalhado entre o cômico e o desconfortável, entre o irônico e o amargo, é o racismo. (Amazon Prime Video)
Klondike: A Guerra na Ucrânia (2022)
Depois de uma curta temporada no cinema, o filme escrito, dirigido e editado por Maryna Er Gorbach entrou em cartaz agora em junho no streaming. Premiado nos festivais de Sundance e de Berlim, Klondike se passa em 2014. Irka, a protagonista interpretada por Oksana Cherkashyna, e seu marido, Tolik, vivem em Donetsk, nas proximidades da turbulenta fronteira entre Ucrânia e Rússia. Na primeira cena, descobrimos que o casal aguarda o primeiro filho. Assim que Tolik diz que quer se mudar para longe da guerra, uma bomba destrói parcialmente a casa dos personagens.
Mas Irka está decidida a ser mãe ali mesmo. Tenta manter uma rotina — ordenha a vaca, limpa a casa — como forma de lidar com o horror e o absurdo da guerra. Une seu instinto de sobrevivência ao amor pelo país. Enquanto isso, Tolik é pressionado por seus amigos separatistas pró-Rússia a se juntar a eles. A tensão aumenta com a visita do irmão de Irka, um soldado nacionalista. A situação se complica ainda mais quando um avião civil, o Boeing 777 da Malaysian Airlines, cai na região, matando 298 pessoas, provavelmente abatido por engano. A tragédia não é fictícia: aconteceu em 17 de julho de 2014. Se Klondike fosse um filme de Hollywood, veríamos cenas de ação e catástrofe, mas aqui essas coisas são pano de fundo. O foco está no impacto da guerra em uma família comum. (Disponível para alugar por R$ 9,90 na Belas Artes à La Carte)
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022)
Com sessões de pré-estreia a partir desta quinta-feira (16) — entrará em cartaz no dia 23 de junho —, talvez seja um dos títulos mais aclamados pela crítica nesta temporada. Estou louco para ver este "primo pobre" de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura — custou US$ 25 milhões, contra os US$ 200 milhões da aventura da Marvel. Os diretores Dan Kwan e Daniel Scheinert contam a história de uma imigrante chinesa, Evelyn Wang (Michelle Yeoh), que convive com algumas pressões: a auditoria que a receita federal (a cargo da personagem de Jamie Lee Curtis) faz sobre sua lavanderia, um casamento em crise, a busca pela aprovação do pai e a relação com uma filha que vem se distanciando. Para piorar as coisas, Evelyn descobre sua existência em infinitos universos paralelos e precisa acessar as experiências e habilidades de suas contrapartes para combater a ameaça de um ser maligno. (Sessões de pré-estreia no Espaço Bourbon Country, às 21h10min, e no GNC Moinhos, às 19h, do dia 16 ao dia 22 de junho)
Lightyear (2022)
Um letreiro no início estabelece o lugar do 26º longa-metragem da Pixar na cronologia da tetralogia Toy Story (1995-2019): este é o filme que Andy assistiu e que o fez pedir de presente um boneco do personagem Buzz Lightyear. Ou seja, estaremos diante de um astronauta "de verdade", que não tem mais a voz de Tim Allen na versão original, mas a de Chris Evans, que empresta a sua dignidade de Capitão América (nas cópias dubladas, a interpretação é de Marcos Mion). O que vemos é uma ótima aventura de ficção científica, com um visual bem mais realista do que o habitual nas produções do estúdio e recheada de elementos do gênero — de robôs perigosos aos paradoxos das viagens no tempo. De quebra, a animação dirigida por Angus MacLane traz o primeiro beijo lésbico da Pixar, o que provocou o banimento do título em países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. (Em cartaz nos cinemas, em 22 salas de Porto Alegre)