Dedicada a filmes sem previsão de estreia nos cinemas, a Sessão Plataforma dá início a sua programação de 2022 em casa nova — a Cinemateca Capitólio — e com uma baita atração: Memória (Memoria, 2021), de Apichatpong Weerasethakul. A exibição será neste sábado (7), às 19h, com ingressos a R$ 8 (até as 11h desta sexta-feira, ainda havia bilhetes disponíveis), na sala com capacidade para 164 espectadores localizada na Rua Demétrio Ribeiro, 1.085, em Porto Alegre.
Entre 2013 e 2016, a Sessão Plataforma apresentou na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro títulos de Pedro Costa, Mati Diop, Sergei Loznitsa e Corneliu Porumboiu, entre outros cineastas. Um dos objetivos do projeto, que tem curadoria e produção de Davi Pretto e Paola Wink, em parceria com a Coordenação de Cinema e Video da Prefeitura de Porto Alegre, é "ressaltar a importância da experiência imersiva do cinema como potência e transformação coletiva". Não poderia ser mais apropriada a escolha de Memória para reabrir os trabalhos. Em outubro de 2021, a distribuidora estadunidense Neon (a mesma de Parasita), anunciou que o filme seria lançado apenas nos cinemas, e com somente uma cópia por vez — ou seja: só depois de encerrar suas exibições em uma cidade partiria para outra. A estratégia, no entanto, não durou muito: consta que o longa-metragem vai estrear em uma plataforma de streaming — a MUBI — no segundo semestre, em data ainda não confirmada.
Memória é a primeira obra de Weerasethakul, 51 anos, rodada fora de seu país, a Tailândia. O diretor de Mal dos Trópicos (2004) e Cemitério do Esplendor (2015) filmou na Colômbia a história de Jessica Holland, uma escocesa interpretada por Tilda Swinton, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Conduta de Risco (2007). A sinopse diz o seguinte: "Desde que ouviu um estrondo ao amanhecer, Jessica não consegue dormir. Torna-se amiga de Agnes (personagem vivida por Jeanne Balibar), uma arqueóloga que estuda vestígios humanos recuperados nas escavações da construção de um túnel, e conhece, junto a um rio, Hernan (Elkin Diaz), um pescador que guarda muitas memórias. À medida que o dia se aproxima do fim, Jessica começa a recuperar o sentido da audição".
Os filmes de Weerasethakul não são de fácil digestão. Assim escreveu meu colega Daniel Feix à época da estreia em Porto Alegre de Cemitério do Esplendor: "Aqueles que não embarcam em suas viagens oníricas e sensoriais torcem o nariz, enquanto outros, incluindo grande parte da crítica especializada, se põem em êxtase diante da magia de suas imagens. Ou, sendo preciso, de suas não imagens — a arte do cineasta tailandês é desafiadora porque, sob certo aspecto, fala sobre aquilo que está além do que somos capazes de enxergar".
O diretor pratica o que se pode chamar de cinema transcendental, no qual a espiritualidade, os sonhos e mistérios da selva têm papel de destaque, e os ecos do passado se fazem soar no presente. Já é um dos queridinhos do Festival de Cannes, na França. Eternamente Sua (2002) ganhou a mostra Um Certo Olhar. Mal dos Trópicos recebeu o Prêmio do Júri. Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas (2010) mereceu a Palma de Ouro. E Memória também levou o Prêmio do Júri, além de ter sido apontado como o terceiro melhor filme de 2021 pelos críticos da revista parisiense Cahiers du Cinèma.
Depois do tailandês Apichatpong Weerasethakul, a Sessão Plataforma vai dar palco ao iraniano Shahram Mokri. No dia 4 de junho, às 20h, a Cinemateca Capitólio exibe Careless Crime (2020). No filme, que é baseado em fatos reais, quatro homens decidem colocar fogo em uma sessão de cinema. Nas palavras do diretor, a obra é sobre "um impensado ato criminoso que tenta recriar significativos eventos históricos. Mas o filme não tenta reencenar a história; em vez disso, é sobre o próprio cinema".