Estreia nesta quinta-feira (21) em três cinemas de Porto Alegre — Cine Grand Café, Espaço Bourbon Country e GNC Moinhos — Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar (Flugt, 2021), filme dinamarquês que fez história no Oscar ao conquistar uma inédita tripla indicação: melhor longa internacional, melhor documentário e melhor animação.
Apesar de sair da premiação da Academia de Hollywood sem um Oscar nas mãos, Flee é um dos títulos mais premiados da temporada 2021/2022. Entre os mais de 80 troféus já conquistados, estão o Cristal de melhor longa-metragem no Festival de Annecy (França), os de melhor documentário e melhor animação no European Film Awards e o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance.
O documentário em animação conta com gente influente nos bastidores e na divulgação: os atores Nikolaj Coster-Waldau (o Jamie Lannister da série Game of Thrones) e Riz Ahmed (vencedor do Emmy por The Night Of e indicado ao Oscar por O Som do Silêncio) estão entre os produtores executivos, e o cineasta sul-coreano Bong Joon-ho, realizador do oscarizado Parasita (2019), elegeu Flee como um dos seus filmes favoritos de 2021, chamando-o de "a peça de cinema mais comovente do ano".
Seu diretor, o documentarista e radialista Jonas Poher Rasmussen, é amigo de um refugiado do Afeganistão desde a adolescência, mas desconhecia os detalhes da história dele. Na vida adulta, o cineasta propôs fazer um filme sobre essa jornada. Só que havia riscos e traumas. Então, foram adotadas algumas estratégias para preservar a identidade do protagonista e proteger seus familiares de eventuais represálias.
A primeira delas foi usar um pseudônimo, Amin Nawabi. A segunda foi recorrer à animação, o que permitiria criar personagens com feições diferentes dos verdadeiros.
Em Flee, Amin compartilha pela primeira vez os dramas de seu passado. Hoje um acadêmico de 30 e poucos anos, prestes a se casar com seu companheiro, ele relembra sua infância no Afeganistão ("Onde sequer há uma palavra para homossexual") e como o crescimento dos Mujahidin (grupos guerrilheiros precursores do Talibã) impôs um exílio e uma diáspora à sua família.
Rasmussen e o diretor de animação Kenneth Ladekjær utilizaram estilos variados. Parte do filme emprega a técnica convencional para mostrar os acontecimentos, a partir das lembranças vívidas de Amin. Em outras sequências, ligadas a eventos traumáticos, o visual é mais abstrato. O impacto é acentuado pelo uso pontual de imagens de arquivo colhidas em Cabul, em Moscou e no Mar Báltico, por exemplo.