Acabaram de entrar no catálogo do Amazon Prime Video todos os filmes da série Rocky — os cinco filmes que Sylvester Stallone, hoje com 75 anos, estrelou entre 1976 e 1990, a retomada do personagem, já aposentado, em Rocky Balboa (2006), e os dois Creed (2015 e 2018), com Michael B. Jordan no papel do filho de Apollo Creed, o campeão dos pesos-pesados que o mais célebre e longevo pugilista do cinema desafiou na sua estreia.
Rocky, um Lutador (1976) é sem sombra de dúvida um dos melhores títulos não só da franquia, não só de boxe, mas de esporte como um todo.
Ganhou três Oscar — melhor filme, diretor (John G. Avildsen) e edição — e concorreu a outros sete, incluindo melhor ator, atriz (Talia Shire), roteiro original (escrito pelo próprio Stallone), ator coadjuvante (com dois indicados, Burgess Meredith e Burt Young), e, claro, a empolgante canção Gonna Fly Now. Quem nunca se imaginou, diante de um desafio, subindo os degraus de pedra do Museu de Arte da Filadélfia, como Rocky Balboa, ao som daquela música composta por Bill Conti, Carol Connors e Ayn Robbins? Tananaaan, tananan...
Rocky tem aquilo que faz do ringue um cenário por excelência para o Oscar. Os filmes de boxe costumam focar em personagens que travam não apenas uma luta física (o que é suficiente para render cenas de ação cruas e realistas ou, pelo contrário, inventivas e até poéticas), mas também uma luta psicológica. É um duelo em que só pode haver um ganhador, mas que permite ao perdedor a segunda chance, tema mítico nos Estados Unidos, um país que nasceu de uma segunda chance — a dos pobres e degradados britânicos que partiram para a América no século 17.
Os atores, por sua vez, têm a oportunidade de operar as transformações corporais que enchem os olhos da Academia — não apenas a de malhação, mas sobretudo a de Hollywood. Vide o que fez Robert De Niro em Touro Indomável (1980) — no papel de Jake LaMotta, ele ganhou a estatueta de melhor ator.
Os filmes subsequentes da franquia não chegaram nem perto do mesmo reconhecimento crítico — Rocky IV (1985) e Rocky V (1990) "ganharam" ou foram indicados a várias Framboesas de Ouro, o prêmio galhofeiro promovido por um jornalista na véspera do Oscar. Mas Rocky IV tem a seu favor a condição de campeão nas bilheterias. Lançado à época da Guerra Fria, soube capitalizar a rivalidade entre os Estados Unidos e a então União Soviética, transposta para os ringues no combate entre Rocky e Ivan Drago (encarnado por Dolph Lundgren). Faturou US$ 300 milhões, contra os US$ 270 milhões de Rocky III (1982) e os US$ 225 milhões do primeiro filme.
A redenção do personagem aconteceu 16 anos depois de sua última aparição: Rocky Balboa (2006), escrito, dirigido e protagonizado por Stallone. Na trama, o boxeador está aposentado e toca a vida como dono de restaurante, batizado de Adrian's em homenagem a sua falecida esposa. Quando um programa de TV simula um combate entre ele e o campeão dos pesos-pesados Mason Dixon (inspirado em Mike Tyson e encarnado por um pugilista de verdade, Antonio Tarver), Rocky tem a chance de voltar ao ringue e, de quebra, reconquistar o respeito do filho.
Stallone recebeu elogios, mas só voltou a ser lembrado pelo Oscar pela atuação em Creed: Nascido para Lutar (2015), de Ryan Coogler. Rocky, agora, é um treinador, cujo bom humor contrasta com a seriedade do Adonis Johnson interpretado por Michael B. Jordan. O filme fez de Stallone, indicado ao Oscar de coadjuvante, o sétimo ator na história a disputar a estatueta pelo mesmo personagem e abriu em definitivo as portas para Jordan, que depois viveria o Killmonger de Pantera Negra (2018), também dirigido por Coogler e lançado no mesmo ano de Creed II — em que os filhos de Apollo Creed e Ivan Drago revivem o duelo travado pelos pais na década de 1980.
Bônus: Balboa versus LaMotta
Se depois de ver (ou rever) toda a franquia Rocky/Creed você ainda tiver cabeça e estômago para mais boxe, a dica é conferir Ajuste de Contas (2013), de Peter Segal. Sylvester Stallone e Robert de Niro interpretam dois sessentões que voltam ao ringue — é como se fosse o duelo nunca visto entre Rocky Balboa e o Jake LaMotta de Touro Indomável. Disponível em HBO Max, AppleTV, Google Play e YouTube.