O Oscar de melhor documentário ganhou atenção especial do público brasileiro no ano passado, quando Democracia em Vertigem, da diretora Petra Costa, concorreu (o filme sobre a turbulência política no país desde o impeachment de Dilma Rousseff até a eleição de Jair Bolsonaro foi derrotado por Indústria Americana).
Em fevereiro, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou a lista dos 15 semifinalistas de 2021 (a chamada shortlist). O filme brasileiro Babenco — Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, de Bárbara Paz, não foi selecionado. Os cinco indicados ao prêmio serão anunciados em 15 de março, e a cerimônia está marcada para 25 de abril.
Dos 15 documentários, pelo menos oito podem ser vistos no Brasil, disponíveis em plataformas de streaming como Amazon Prime Video, Globoplay e Netflix. Sobre dois deles, eu já escrevi colunas (clique nos links).
As Mortes de Dick Johnson — Ao homenagear em vida seu pai, um octogenário que começa a apresentar os sinais do Alzheimer, a documentarista Kirsten Johnson também celebra o ofício do cinema, capaz de eternizar as coisas e as pessoas, e capaz também de matar sem matar. (Netflix)
Até o Fim: A Luta pela Democracia — As diretoras Lisa Cortés e Liz Garbus (indicada ao Oscar da categoria por The Farm: Angola, USA, de 1998, e What Happened, Miss Simone?, de 2015) analisam a história e o ativismo contra a supressão de eleitores — especialmente os negros, os nativo-americanos e os latinos — nos Estados Unidos. O país, por exemplo, impunha taxa de voto para que a população negra, sem dinheiro para pagar, não pudesse participar das eleições, além de aplicar capciosos testes de alfabetização indecifráveis mesmo por alunos de Direito de hoje. (Amazon Prime Video)
Time — De forma poética e não linear, com o uso de muitos vídeos caseiros, a diretora Garrett Bradley documenta a luta de uma mulher negra, a empresária Sibil Fox Richardson, a Fox Rich, para tirar da cadeia seu marido e o pai de seus quatro filhos, condenado a 60 anos de prisão. A hipnótica música ao piano, composta por Emahoy Tsegue-Maryam Guebrou, reforça o embaralhamento de tempo e memória que nos afeta quando uma parte de nós está distante e sem previsão de retorno. (Amazon Prime Video)
Welcome to Chechnya — Premiado nos festivais de Berlim, Sundance e São Paulo, faz uma denúncia sobre a violenta perseguição à população LGBT+ na Rússia. A direção é de David France. (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
Boys State — Os diretores Amanda McBaine e Jesse Moss contam a história de um grupo de adolescentes americanos que se unem para simular um governo representativo. (Apple TV)
Crip Camp: Revolução pela Inclusão — Os diretores James Lebrecht (ele próprio nascido com espinha bífida) e Nicole Newnham recuperam o cotidiano de um acampamento de verão onde, no início dos anos 1970, sob supervisão de hippies, adolescentes com deficiência física ou mental firmaram laços de amizade e plantaram as sementes da luta por um mundo mais inclusivo. Barack e Michelle Obama são produtores executivos, e a trilha sonora é um atrativo à parte — destaque para a clássica For What It's Worth (Buffalo Springffield) e a pungente Like a Ship (Pastor T.L. Barrett and The outh for Christ Choir). (Netflix)
Professor Polvo — A história de aproximação entre um documentarista sul-africano, Craig Foster, e um Octopus vulgaris é acompanhada de muito perto pelos diretores Pippa Ehrlich e James Reed. (Netflix)
Agente Duplo —No filme da chilena Maite Alberdi, um octogenário que é contratado por um detetive particular para se infiltrar em um lar para idosos, a fim de comprovar ou não uma suspeita de maus-tratos. (Globoplay)
Os outros sete documentários cotados ao Oscar são: 76 Days, de Weixi Chen, Hao Wu e Anonymous, sobre os primeiros dias da pandemia de covid-19 na China;
Collective, do romeno Alexander Nanau, que retrata a luta de um grupo de jornalistas para descobrir fraudes, corrupção e má administração na saúde pública do país;
Gunda, dirigido pelo russo Viktor Kosakovsky e produzido pelo ator norte-americano Joaquin Phoenix, ambos veganos qque defendem os direitos dos animais;
MLK/FBI, de Sam Pollard, sobre a vigilância da polícia federal dos Estados Unidos em torno do ativista pelos direitos civis dos negros Martin Luther King Jr.;
Notturno, do italiano Gianfranco Rosi, rodado durante três anos em zonas de guerra da Síria, do Iraque, do Curdistão e do Líbano;
The Painter and the Thief, do norueguês Benjamin Ree, que enfoca a relação entre uma artista e o homem que roubou um quadro dela;
The Truffle Hunters, de Michael Dwweck e Gregory Kershaw, sobre a caçada a uma premiada iguaria gastronômica, a trufa branca, nas florestas do norte da Itália.