A sinopse na Netflix não é exatamente entusiasmante para quem está buscando um filme de suspense: "Ao aceitar o convite para a festa de sua ex-mulher, homem abre antigas feridas e cria novos conflitos". Soa mais como um drama intimista ou uma comédia romântica. Os três nomes do elenco citados não devem despertar qualquer lembrança – Logan Marshall-Green, Tammy Blanchard, Emayatzy Corinealdi. Talvez você já tenha ouvido falar da diretora, Karyn Kusama, que esteve em alguma evidência no começo do ano graças à indicação de Nicole Kidman ao Globo de Ouro de melhor atriz por O Peso do Passado, e que também fez Girlfight (2000), que lhe valeu prêmios nos festivais de Cannes e de Sundance, Aeon Flux (2004) e Garota Infernal (2009). De qualquer forma, fica o convite: assista a O Convite.
Trata-se de um daqueles tesouros escondidos no catálogo da Netflix. Aliás, preste atenção: se você procurar por O Convite, clique em The Invitation, que é como o título aparece no menu e no cartaz. Esconder é o verbo chave: quanto menos você souber, mais vai ser envolvido por esse suspense tenso pra caramba que tem pegada semelhante à de outros dois filmes do gênero lançados no mesmo ano, 2015: O Presente, dirigido e estrelado por Joel Edgerton, e A Visita, de M. Night Shyamalan. Portanto, podem continuar lendo. Não haverá spoiler.
Uma mistura de Tom Hardy com Matthew McConaughey, Marshall-Green, no papel de Will, representa o olhar intrigado do espectador diante de uma festa estranha com gente esquisita.
O roteiro é simples, mas muito inteligente na sua escolha pela paciência – somos cozinhados em fogo brando, sofrendo por imaginar que em algum momento acabaremos escaldados.
A diretora faz sua parte de forma brilhante, seguindo à risca a máxima hitchcockiana de ocultar mais do que mostrar, de sugerir mais do que revelar.
Enquanto isso, flashes do passado vão dando peças de um quebra-cabeças emocional: o trauma da relação entre Will e a anfitriã, Eden (nome bastante sugestivo), ambos, agora, com novos parceiros – ele está com Kira, ela, com David (Michiel Huisman, esse sim, um rosto mais conhecido: fez o Daario Naharis de Game of Thrones e o fio condutor de A Maldição da Residência Hill).
Por mais que a gente pressinta o perigo – afinal, não faltam sinais de que algo está errado –, há surpresas e choque. E, por trás da trama, há uma interessante (e pertinente nos dias de hoje) reflexão sobre a natureza do fanatismo e suas consequências, seu poder de contaminação e alastramento, como muito bem ilustrado no terrificante final.
Assista sem medo. Ou melhor, assista COM medo.