Caros leitores, estou de volta. E já lhes adianto, não sou mais o mesmo, aliás, quem de nós é o mesmo um mês após a maior tragédia da história do nosso Estado? Nesses últimos 30 dias, estive fazendo de tudo, auxiliando meus familiares — meu próprio pai foi uma das vítimas dessa tragédia. Estive carregando doações, transportando mantimentos, descarregando caminhões e sempre com o ouvido atento ao rádio, olhos vidrados nas notícias da televisão, foi um mês que me esgotou física e mentalmente mais do que qualquer sessão de treino nos quase 20 anos de carreira atlética que tenho.
Com tanta coisa acontecendo, acabam nos fugindo as palavras e nos aflige a tristeza e o sentimento de impotência. Portanto, acaba ficando extremamente difícil escrever, foram dias sombrios para nós todos, sem muita perspectiva de melhora e, ao mesmo tempo que o mês passou muito rápido, parece que demorou muito. No momento, estou em São Paulo, com um aperto no coração. Tive de sair de Porto Alegre por hora para poder dar continuidade com o meu objetivo de ir aos Jogos Olímpicos, sinto que fiz o que pude por hora e sei que há um caminho longo pela frente até nos reerguermos, por isso eu e minha equipe tomamos essa decisão.
Essa situação toda me fez refletir bastante sobre muitas coisas e uma das coisas que mais pensei foi em como não devemos nunca perder a fé na humanidade. Obviamente, cada ser humano é único, cada um de nós tem seus próprios traços e características, mas o que essa tragédia evidenciou, para mim pelo menos, é que ainda há algo que é comum em nós todos, que no fundo, todos sabem a coisa certa a se fazer, mas que por diversos motivos apenas em situações extremas isso acontece. Essa solidariedade, esse senso de ajudar ao próximo que foi despertado em milhões de pessoas, é algo inerente a nossa humanidade.
Na minha primeira coluna aqui pra GZH, escrevi sobre como o olimpismo é o maior valor do esporte e tem potencial para mudar o mundo. Nessas últimas semanas, com essa disposição das pessoas e toda a solidariedade, consegui ver muito do olimpismo na população gaúcha, apesar de todo o caos e tristeza, consegui vislumbrar um pequeno brilho de esperança ao traçar esse paralelo.
Meus colegas de profissão também fizeram um show à parte — como já é de costume. Apesar da obrigação com treinamentos e competições, não mediram esforços para estarem no máximo de frentes possíveis para que saiamos o quanto antes dessa situação.
Daqui pra frente, precisamos manter a chama acesa, não deixemos chegar a um extremo para agir de forma correta. Que exerçamos essa solidariedade todos os dias, o máximo possível, para formarmos juntos um futuro caloroso e que consigamos reconstruir tudo melhor do que antes.
Vamos além, vamos por mais!