É tradição os vencedores do Nobel serem conhecidos no início de outubro, mas a entrega do prêmio só ocorre dois meses depois, em 10 de dezembro, aniversário da morte do sueco Alfred Nobel (1833-1896), motivo para eu falar aqui na coluna sobre o Museu do Prêmio Nobel, em Estocolmo. Eu o visitei dias antes do último anúncio dos agraciados (a distinção é concedida nas categorias Fisiologia ou Medicina, Física, Química, Paz, Literatura e Economia, esta última sem o status de Nobel). Foi uma visita rápida e limitada — nas minhas últimas horas na capital da Suécia, enquanto o local era preparado para duas novas exposições.
O site do lugar dá o tom do que se encontra nele — "somos um pequeno museu com vasto conteúdo", diz — e do significado do prêmio: "o Nobel mostra que as ideias podem mudar o mundo". O espaço ilustra muitas das invenções e da criatividade humana em mais de um século. Você pode optar por um tour guiado, escolha da maioria das pessoas que ingressaram no museu comigo, mas não a minha, pela escassez de tempo. As salas que visitei eram autoexplicativas e acredito não ter perdido muita coisa.
Talvez o ideal seja começar pelo espaço dedicado ao próprio Alfred Nobel. Numa linha do tempo, dá para saber a origem da condecoração, o desejo de Nobel de premiar pessoas destacadas em suas áreas, manifestado em testamento e o que o levou a fazer isso: oito anos antes de morrer, leu o próprio obituário em um jornal, ao ter o nome do irmão confundido com o seu, sob o título "O mercador da morte morreu". É que Nobel, engenheiro, empresário, dono de uma siderúrgica que se tornou uma fábrica de armas, e inventor, tem entre suas invenções (foram mais de 350!) a dinamite. Com o prêmio, então, acabou fazendo uma espécie de mea-culpa.
Dos objetos de Alfred Nobel expostos, me chamaram atenção, por motivos óbvios, os guias de viagem que pertenciam à biblioteca do cientista. Ao se deslocar pelo mundo para fazer negócios, ele reservava tempo para incursões turísticas, mas igualmente costumava programar viagens exclusivas de lazer.
Logo na entrada, no saguão principal, o destaque é para os ganhadores do Nobel no último ano. Junto ao retrato de cada um, há uma breve biografia, um vídeo com entrevistas e objetos. À esquerda, em um pequeno anfiteatro, pode-se assistir a vídeos com a história de alguns premiados. À direita, uma galeria abriga objetos pessoais dos vencedores de todos os tempos (o prêmio é atribuído desde 1901), alguns doados pelos próprios (um dos que fotografei foi o relógio despertador da escritora Annie Ernaux — uma das minhas favoritas —, reafirmando a importância do tempo em sua obra), outros por colecionadores.
O museu tem ainda uma lojinha interessante, espaço para crianças com experimentos interativos e um concorrido café/restaurante. Nas últimas duas décadas, promove ainda exposições itinerantes pelo mundo, em parceria com instituições, divulgando o prêmio, a ciência e a cultura.
Para ir
- O Museu do Prêmio Nobel fica no coração da Cidade Antiga (Gamla Stan), em Estocolmo, próximo ao Palácio Real e à Catedral.
- De setembro a março, as visitas ocorrem de terça a domingo, das 11h às 17h (exceto às sextas, quando fecha às 21h).
Saiba mais em nobelprizemuseum.se
Os vencedores de 2023
- Física: Pierre Agostini, Ferenc Krausz e Anne L'Huillier, pelos experimentos que possibilitaram explorar o mundo dos elétrons.
- Medicina: Katalin Karikó e Drew Weissman, pelos estudos que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes contra a Covid-19.
- Química: Moungi G. Bawendi, Louis E. Brus e Alexei I. Ekimov, pelo desenvolvimento de pontos quânticos, nanopartículas que estão por trás do LED.
- Literatura: Jon Fosse, por suas obras que dão "voz ao indizível".
- Paz: Narges Mohammadi, pela luta contra a repressão das mulheres no Irã.
- Economia: Claudia Goldin, por seus trabalhos sobre mulheres no mercado de trabalho.
Mais em nobelprize.org
Curiosidades
- De 1901 a 2023, foram atribuídos os prêmios Nobel e em Economia 621 vezes (este último, um prêmio especial concedido desde 1968) — a premiação teve diversas interrupções, incluindo as duas Guerras Mundiais.
- Um total de 965 pessoas e 27 organizações já foram premiadas.
- A pessoa mais jovem a recebê-lo foi a ativista paquistanesa Malala Yousafzai (Nobel da Paz de 2014, aos 17 anos); a mais velha, John B. Goodenough (Nobel de Química, em 2019, aos 97 anos).
- Até 2023, 65 mulheres receberam o Nobel
- A cerimônia de premiação ocorre em Estocolmo (Suécia) e em Oslo (Noruega), onde é entregue o Nobel da Paz.
- Cada vencedor recebe uma medalha de ouro, um diploma e uma quantia em dinheiro (cerca de US$ 1 milhão).
- O prêmio não é dado postumamente e não pode ser concedido a mais de três pessoas por categoria, a não ser o da Paz, que pode ser atribuído a organizações.