Especializada em criar conteúdos de viagem, a jornalista Anelise Zanoni conhece mais de 30 países e já escreveu mais de 40 guias de turismo sobre diferentes destinos. Autora da plataforma Travelterapia e diretora da agência Way Content, especializadas em informações turísticas, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, atuou como professora universitária e estudou em destinos como Canadá, Espanha, Estados Unidos e Irlanda.
Toda essa qualificação não impediu que o medo a paralisasse momentaneamente ao descobrir uma deficiência auditiva no filho pequeno. Como seguir viajando e proporcionar o melhor para o menino? Quando me colocou a questão, prestes a embarcar com ele para a Flórida (EUA), combinamos que, no retorno, ela escreveria um texto contando a experiência. Confira:
"O que cansa uma família não é ter um filho com deficiência, mas a rotina de percorrer lugares que não estão preparados para recebê-lo."
No dia em que li o desabafo dessa mãe, pensei sobre o quanto a frase faria sentido para minha nova maneira de viajar em família. Depois de percorrer dezenas de países a trabalho e a lazer, minha viagem a Orlando, em setembro, seria muito diferente. Pela primeira vez, embarcava com meu filho de sete anos e um par de aparelhos auditivos nos seus pequenos ouvidos.
A surdez parcial foi detectada este ano, dias após a compra da passagem aérea para a sonhada viagem. Passado o susto, me joguei no futuro, planejei o roteiro com olhar de jornalista e o transformei em fonte de estudo e aprendizado. Queria conhecer um pedacinho desse universo que, no Brasil, abrange 18,3 milhões de pessoas com deficiência, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de julho de 2023.
Pesquisei sobre acessibilidade e conversei com representantes de parques temáticos para que meu filho pudesse ter experiências únicas e iguais às outras crianças. Descobri que acessibilidade é prioridade na Flórida. A maioria dos parques tem ao menos um pacote básico que inclui áreas exclusivas de estacionamento, rampas, aluguel de cadeiras de rodas e carrinhos elétricos, tradutores e atrações com legendas. Além disso, muitos têm salas de silêncio para crianças com sensibilidade a sons e passes para evitar longas esperas. É um pouquinho de conforto para as famílias.
Abaixo, você verá uma lista dos lugares onde estivemos e que indica projetos de acessibilidade para crianças com diferentes tipos de deficiência, como intelectuais e físicas. Afinal, todo mundo tem direito a viajar de forma plena e com menos barreiras, inclusive os pais que vivem o dia a dia de rotinas intensas.
1) Disney World
Um dos lugares mais desejados, a Disney tem um projeto amplo de acessibilidade. Na entrada de cada parque é disponibilizado um mapa com informações de acesso adaptado a diferentes necessidades. As mesmas informações estão no app. Os parques têm o Disability Access Service (DAS), com acesso prioritário a quem tem dificuldade em esperar em filas demoradas por conta da condição física ou mental. Para adquirir o passe, é preciso solicitar no Guest Service. Com o aceite, você agenda as atrações no aplicativo. O sistema só pode ser usado para quem realmente precisa!
2) Universal Studios
Harry Potter, Minions, Homem-Aranha, Transformers e tantos outros personagens podem fazer parte de uma experiência de viagem sem limites. Além de oferecer apresentações traduzidas por intérpretes e traslados entre parques e hotéis com ônibus adaptados, a marca desenvolveu o Assistance Pass, para visitantes com problemas para esperar nas filas. Você o solicita no Guest Service e agenda horário para cada atração. Para crianças que precisam se acalmar, há um quarto silencioso no Universal Studios, com um espaço tranquilo e de baixa estimulação.
3) Kennedy Space Center
Para quem tem curiosidade sobre o mundo dos astronautas e dos planetas, o Kennedy Space Center não tem limites. O parque de Cabo Canaveral recebeu a designação de Centro Certificado para Autismo e tem um guia sensorial com orientações sobre como as atrações podem afetar cada um dos cinco sentidos. Há também fones de ouvido com redução de ruídos para autistas ou para quem precisa proteger a audição. Para pessoas com deficiência visual, é oferecido um audioguia.
4) Legoland
O parque que homenageia um brinquedo que marcou gerações tem ambientes inclusivos e com selo de Centro Certificado para Autismo. Você encontrará guias sensoriais e funcionários certificados. Para crianças autistas, há áreas silenciosas para descansar, com fones de ouvido com cancelamento de ruído, cobertores e brinquedos. Há ainda o Hero Pass, serviço solicitado no Guest Service para quem tem dificuldade de esperar em filas.
5) Peppa Pig Theme Park
Inaugurado em 2022, o parque da famosa porquinha estreou com diferenciais. Foi um dos primeiros a receber o selo de Centro Certificado para Autismo. Tem músicas em volume baixo e muitas áreas para crianças pequenas. Todas as atrações remetem aos personagens do desenho animado e têm guia sensorial. Assim como Legoland, o parque adota o Hero Pass.
6) Florida's Childrens Museum
Em Lakeland, a cerca de uma hora de Orlando, a atração merece uma visita sem pressa. Reúne brincadeiras com educação e aprendizado, em dois andares divididos por cores, com áreas lúdicas e experimentações. Há sombras para controlar a luz solar e tratamentos de parede com amortecimento de som. Chamam a atenção a sala silenciosa e os kits sensoriais. O museu tem parceria com o Centro para Autismo e Deficiências Relacionadas e é considerado um local “Autism Friendly”.
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Clube de Viagens para pessoas com deficiência
Desde 2016, o Pertence — clube de sociabilização para pessoas com deficiência intelectual, sensorial e/ou física — promove viagens para locais turísticos do Brasil. Além de estimular que os participantes vivam suas próprias histórias, as viagens têm caráter educativo, com visitação a pontos turísticos e culturais. Os roteiros ainda ajudam na independência e autonomia. O último destino foi a Bahia, no início de novembro. Informações: clubesocialpertence.com.br