Se a vizinha Cambará do Sul adotou o epíteto “Terra dos Cânions”, Bom Jesus e São José dos Ausentes poderiam se tornar a “Terra dos São Bernardo”. É nisso que acredita, brincando, mas falando sério, Paulo Rogério Flores de Souza, que está à frente da Estância das Flores, pousada no limite das duas cidades dos Campos de Cima da Serra.
É ele o responsável por ter iniciado uma “colônia de São Bernardo” na propriedade de 200 hectares que já conta com seis cães (quase) adultos. Na primavera, devem nascer as primeiras ninhadas — da gestação de 60 a 65 dias, cada fêmea pode ter de seis a oito filhotes —, e Paulo pretende distribuí-los a outras pousadas.
— Vivemos no lugar mais frio do país, mas nossa cidade não tem uma identidade, um apelo. Um cachorro de frio pode ser essa atração — diz ele.
Formado em Direito, mas especializado em gestão de projetos na área de TI, Paulo, 42 anos, havia levado com ele os dois cães da raça Beagle, Jack e Amarula, quando mudou de cidade — e de vida — quatro anos atrás. Após ter sofrido um infarto aos 35 anos, abandonou Porto Alegre e investiu tudo o que tinha na pousada, cuja estrutura existia havia 18 anos sem funcionar. Quando um dos cães, Jack, sumiu, em 2020, ele adotou a São Bernardo Stella, que acabaria morrendo em 2021. Acolheu, então, Heineken, um macho, e outras três fêmeas: Artois, Guinness e Estrela. Tempos depois, o canil de onde havia vindo Stella pediu que ele ficasse com uma irmã dela, Agnes, e um outro local, de Vacaria, ofereceu-lhe mais um macho, o Johnnie.
— Viramos santuário — resume Paulo.
Os 10 funcionários, garante ele, são loucos pelos cachorros, que vivem soltos e interagem com os hóspedes.
Na região, moravam os avós de Paulo, naturais do distrito de Silveira, em Ausentes. A mãe dele mudou-se para a Capital para estudar, aos 16 anos. Casou, teve três filhos e os levava para passar as férias com os avós. Alberi Flores, o avô, abriu os olhos de Paulo para a beleza dali: iam juntos até a beira do cânion Amola Faca e lhe dizia que aquele era um dos lugares mais bonitos do mundo. O avô morreu quando Paulo tinha 12 anos e a família espaçou as idas. Mais tarde, a mãe voltou a Ausentes, abriu um restaurante e Paulo também se reconectou com o lugar:
— Acompanhei toda a evolução, vi o início do desenvolvimento do turismo, por isso acredito que se pode mais.
Mas, até então, continuava visita. Morou em São Paulo, Londres e São Francisco (EUA). Um dia, após o episódio do ataque cardíaco, teve um insight. Comprou uma área que era do avô e passou a pensar num projeto de hospedagem. Cursou três semestres de Gastronomia da PUCRS, acreditando que teria de se virar nos primeiros tempos quando abrisse seu negócio e não pudesse contratar um cozinheiro, o que de fato ocorreria. Nesse meio tempo, surgiu a proposta da Estância, um prédio de 1.700 metros quadrados de área construída e dois pavimentos, idealizado por uma família que sonhava com uma pousada, mas não concretizara o projeto. Ele, por sua vez, tinha o plano de negócio e sabia trabalhar com tecnologia, fundamental para atrair visitantes naquela lonjura, e tornaram-se sócios — depois, viria a ser arrendatário.
Os dois anos de pandemia, que podiam prejudicá-los, acabaram virando vantagem quando se começou a falar em turismo de isolamento.
— Isolar-se não é ruim, ainda mais quando há conforto — observa.
E enumera vantagens e belezas da propriedade: a nascente do lindo Rio Silveira fica ali, assim como a vista do Amola Faca está logo em frente. Também fica na área o maior corredor de tropeiro da região, quatro quilômetros de cerca de pedra (taipa) dupla demarcando a passagem do gado. O campo, com capões de araucária, é nativo, sem nenhuma plantação. E o ar puro, o verde, o frio...
Faltava alguma coisa? Para ele, os São Bernardo. Agora, não falta mais.
A Estância das Flores
- A pousada – Tem 10 suítes para duas a quatro pessoas, com lareira e banheira de hidromassagem. Até pouco, não havia TVs nos quartos, mas, a pedido dos hóspedes, foram instaladas. Nas áreas comuns, há sala de jogos e de cinema.
- Atividades – Trilhas para caminhada, visita a cachoeiras, aos cânions, cavalgadas, passeios de 4×4 e visitas a vinícolas da região, entre outros. As cavalgadas e as trilhas guiadas são incluídas nas diárias.
- Gastronomia – Os pratos são elaborados a partir de produtos regionais e baseados na culinária dos Campos de Cima da Serra. Oferece quatro refeições: café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.
- Como chegar – Fica no limite de Bom Jesus (a 50 quilômetros do centro e a 25 quilômetros, por estrada de chão, do Km 33 da BR-285, em Capão do Tigre) e São José dos Ausentes (35 quilômetros).
- Os São Bernardo – De tamanho gigante e temperamento calmo, os cães da raça ganharam notoriedade graças a filmes como Beethoven, o Magnífico (1992). Sua história está ligada a monges que montaram uma hospedaria nos alpes suíços, no passo do Grande São Bernardo. Há registros dos cães desde 1695, como mascotes e ajudantes no resgate de pessoas perdidas na neve.
Caminhar em Porto Alegre
Para estas férias de inverno, a proposta da Badejo Experiência Culturais é o conceito "staycation", expressão formada pelas palavras "stay" (ficar) e "vacation" (férias). Ou seja, desfrutar da própria cidade ou dos arredores no período de folga. Os próximos eventos em Porto Alegre (informações em contato@badejo.com.br e (51) 99018-1444):
- 16/7, 14h - Visita guiada ao Cemitério Histórico da Santa Casa
- 23/7, 15h - Walking tour "A Ilhota e o Areal da Baronesa: carnaval, futebol e resistência"
A Itália dá o que falar
No dia 11 de julho, às 17h, o bate-papo do Projeto Amparo, da Amrigs, terá a Itália como tema. Principalmente a gastronomia e as tradições italianas estarão no centro da palestra do engenheiro civil Tiago Luis Gomes, empresário e consultor do Banco Mundial que já carimbou seu passaporte em duas dezenas de países diferentes. Na sede da Amrigs (Avenida Ipiranga, 5.311, na Capital) e gratuito, mas é preciso confirmar presença pelo telefone (51) 3014-2025 ou e-mail csa@amrigs.org.br.
No Trem dos Vales
Lembrando: os passeios do Trem dos Vales em 2022 — em agosto, setembro e outubro — terão 60 viagens entre Guaporé e Muçum, no Vale do Taquari. Até a semana passada, quase 80% dos mais de 35 mil bilhetes haviam sido vendidos. Cada passeio tem dura 2h30min pela Ferrovia do Trigo, em trajeto de 46 quilômetros, com duas opções: uma com saída de Guaporé, às 9h, e outra de Muçum, às 14h. O valor é de R$ 148, e os bilhetes estão à venda no site tremdosvales.com.br ou pelo fone/whats (47) 3307-9977.