Este é o terceiro texto publicado neste espaço, no último ano, sobre casais que viajam em motorhome. Não por acaso. O chamado caravanismo tem crescido, mas não é só por ser tendência que o gaúcho de Torres Sérgio Isoppo Porto, 61 anos, e a esposa catarinense Neusa Maria Chaves, 65 anos, fizeram deste um jeito de viajar. Já era um plano antigo adotá-lo como estilo de vida. Em setembro passado, Sérgio lançou o livro Longe Não Existe: Aventuras de um Casal a Bordo de um Motorhome para contar as viagens dos dois pelo Brasil e pela América do Sul.
Moradores de Florianópolis, eles planejaram meticulosamente a "casinha", como apelidaram o veículo. Ele também concebia o livro, registrando na forma de diário tudo o que se passava nos roteiros. Como em outros casos já contados por aqui, a pandemia deu a largada para organizar os registros e publicá-los.
No livro, está tudo em ordem cronológica e quem quiser inspiração pode até seguir conselhos como o que aparece na página 52 quando, em 2016, eles pediram melhorias no motorhome, com detalhes para os quais não haviam atentado:
— Pesquisem, se informem, andem, aluguem, visitem fábricas e revendas, vejam a sua necessidade. E só depois disso tudo deem o passo seguinte, que é comprar ou fazer o motorhome.
E, na conversa com ele sobre o livro, o ex-funcionário do Banco do Brasil explica melhor: é que existe muito de sonho, mas tem a realidade, o dia a dia. Hoje, por exemplo, ele faria um carro um pouco mais confortável, com espaço interno maior, sem aumentar o tamanho do veículo. A "casinha" tem 3,5 metros de comprimento por 1m75cm de largura — comportando quarto, cozinha e banheiro.
Aposentadoria
Juntos há nove anos, Sérgio e Neusa esperaram a aposentadoria, em 2016, para colocar em prática seu projeto. Quer dizer, um ano e meio antes fizeram a compra, começaram a adaptar o veículo (uma antiga unidade odontológica) e a amadurecer a ideia:
— Foi o momento certo. A intenção é ter isso como um estilo de vida e vamos continuar viajando assim.
Quando estão na estrada, Sérgio e Neusa dividem as tarefas assim: ele cuida da parte mecânica, e as tarefas da casa são compartilhadas. Sérgio não abre mão de preparar o café da manhã, na casa fixa ou rodante. Neusa fica pouco ao volante, mas, se for preciso, também assume. Até já fizeram o dobro disso, mas a média, na estrada, é percorrer 400 quilômetros por dia. Não há nenhuma pressa. Param para comer, tomar um cafezinho, tirar uma soneca. À noite, só trafegam por estradas conhecidas. Uma outra prática é estacionar nos pátios de postos de gasolina para pernoitar quando em deslocamento. Nunca aconteceu nada, no Brasil ou no Exterior, mas eles consideram mais prático e seguro, ainda que haja barulho e a paisagem não seja das mais bonitas.
Também não por medo, nas últimas viagens deixaram de dar carona. Nas três ou quatro vezes em que o fizeram, principalmente na Argentina, percorreram até 500 quilômetros com caroneiros e acharam que os passageiros fortuitos tiram a espontaneidade, impedindo algo do qual gostam muito: mudar de rota ao sabor das atrações.
— Se vemos uma placa na beira da estrada dizendo "tal coisa a X quilômetros", a gente vai. Temos um destino final, mas no caminho surgem muitos outros roteiros — explica ele.
Nesses momentos, não há discussão. O casal negocia:
— Somos muito parceiros e normalmente queremos a mesma coisa.
Não haveria mesmo muito o que contestar quando, a caminho de Ushuaia, um desvio de poucos quilômetros levava a um maravilhoso bosque petrificado, por exemplo. Na primeira vez na Ruta 40, também em território argentino, os 5,2 mil quilômetros viraram muito mais, pois sempre havia alguma coisa mais a ver.
Das aventuras vividas no caminho, a que ainda consideram a mais difícil e desafiadora foi, em 2019, a subida dos 2.800 metros do vulcão Villarica, em Pucón, no Chile. Foi a mais extrema não em altitude, ressalva Sérgio, mas em dificuldade. Foi, também, a mais compensadora, ainda que Neusa, com problemas para respirar, tenha tido de voltar ao ponto de apoio.
— A partir da metade do caminho, é nevado, difícil. Cheguei estropiado. Se tivesse de andar mais 50 metros, não conseguiria — diz ele, que percorreu o trajeto com um guia e outros dois turistas.
Andar a pé, a propósito, não é inconveniente para nenhum dos dois. Em 2018, cumpriram o caminho francês de Santiago de Compostela, com mais de 800 quilômetros, e aquela que é considerada uma extensão do caminho, até Muxia e Finisterre, junto ao mar, ao longo de 53 dias.
— Não há como comparar a caminhada com a viagem de motorhome. Com o motorhome, tens a vantagem de não te preocupar com a hospedagem. É só estacionar, colocar as cadeiras na rua e preparar o chimarrão. Sempre se está em casa — pondera.
A "casa" tem lá suas limitações. Nas primeiras vezes, levavam mais do que precisavam, mas foram aprendendo e hoje carregam só o que é importante. A pandemia, que rendeu o livro, conteve as viagens: apenas duas, no final de 2020, para cidades histórias mineiras e Serra da Canastra, e, no último trimestre de 2021, por 50 dias na Bahia. E mais uma ou outra saidinha de final de semana, sempre os dois, não por egoísmo, mas por praticidade. Também só os dois, acalentam o desejo de cumprir um roteiro mais ousado: ir até o Alaska. Por enquanto, a ideia é continuar explorando o Brasil e, talvez, percorrer de novo a carretera austral, no Chile.
20.924
quilômetros: foi isso o que Sérgio e Neusa percorreram pela Ruta Nacional 40, na Argentina, entre 2019 e 2020
101
dias: foi o tempo do roteiro mais longo, pelo litoral brasileiro, em 2017
O LIVRO
De Sérgio Isoppo Porto. Vitelli Publisher, 2020, 282 páginas. Venda diretamente com o autor, na página do Facebook Longe Não Existe e nos perfis do Instagram @tedoporto e @longe.naoexiste. R$ 70 com frete grátis para todo o país.
DETALHE GZH
Após se fortalecer com a pandemia, o caravanismo, viagens usando trailers ou motorhomes, foi apontado como uma das bolas da vez na edição de fevereiro da Revista de Tendências do Turismo, do Ministério do Turismo. Um levantamento recente encomendado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Trailers, Reboques e Engates (Anfatre) mostra que os licenciamentos de trailers passaram de 1.232 em 2017 para 3.462 em 2021 _ no ano passado houve aumento de 29,9% comparado a 2020, mas a associação considera que os números sejam pelo menos 20% maiores. No caso de motorhomes, os dados de 2021, os únicos disponíveis, apontam para 248 unidades licenciadas e, nesse caso, a Anfatre também acredita que os dados não correspondam à realidade e estima uma produção três vezes maior, de quase 750 veículos. A Anfatre foi criada em 2015 e reúne mais de 50 associados.
Passeios guiados na Capital
Até o dia 30 de abril, o Sindicato Estadual dos Guias de Turismo do RS e a prefeitura de Porto Alegre promovem passeios guiados pelo centro da cidade, às quartas e sábados, com roteiros variados e em três horários: 10h, 14h e 16h. Informações e inscrições: (51) 3289-6765 e sindegturis.com.br.
Porto Alegre na Taça
Com entrada gratuita e integrando a programação dos 250 anos da Capital, o Centro de Eventos do BarraShoppingSul receberá a Feira de Vinhos e Espumantes. O Porto Alegre na Taça reúne as principais vinícolas do Estado e terá gastronomia e cultura. Organizado pela Phoenix, com apoio da prefeitura, abre oficialmente às 19h de quinta-feira. Ao final de cada noite haverá um brinde coletivo. De 31 de março a 3 de abril, das 15h às 21h.
Rota do Império Lusitano
Torres, General Câmara, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Mostardas, Pelotas, Rio Grande, Taquari, Triunfo, Piratini, São José do Norte, Porto Alegre e Viamão serão convidadas a compor a Rota do Império Lusitano do Sul das Américas com a uruguaia Colônia do Sacramento. A ideia da Secretaria do Turismo, em parceria com a Intendência de Colônia do Sacramento, é criar percursos com atrativos da colonização luso-açoriana.