Encerrando a série sobre a Costa Doce e o Litoral Sul do RS enviada pela Ivane Fávero — turismóloga, mestre e consultora em turismo e blogueira (conheça em @ivanefavero e @viajantemaduro), hoje publico o que ela e o esposo, Rômulo, contam ter encontrado em São José do Norte, uma forma de ajudar a quem está (re)descobrindo o Estado.
"Já havia me encantado com o belíssimo centro histórico de São José do Norte, estratégico município na formação do Rio Grande do Sul, mas desta vez descobrimos seus distritos, onde há importantes atrativos. Conhecemos o Barranco, lugar banhado pela Lagoa dos Patos, com bons restaurantes e uma calmaria só. Locamos uma casinha atrás do restaurante Beira da Lagoa e passamos bons dias relaxando.
Emancipada em 1832, a cidade fica 360 quilômetros ao sul de Porto Alegre, entre o Oceano Atlântico e a Laguna dos Patos. A história dá conta de que, na Guerra dos Farrapos, aliou-se ao Império, recebendo, em 1841, por decreto de D. Pedro II, a denominação de Mui Heróica Vila de São José do Norte, em razão da sua resistência às tropas farroupilhas que, por ela, queriam chegar ao porto de Rio Grande.
A Praia do Barranco
Chegamos a São José de balsa, em nosso carro. Anteriormente, eu já havia chegado sem carro, na hidroviária local, que tem acentuado trânsito de pessoas e de veículos e fica no Centro, ligando-a a Rio Grande. Desta vez, fomos direto para Tavares e, depois de dois dias lá, voltamos a São José (quase duas horas de viagem pela BR-101, em boas condições, sem lembrar em nada a antiga 'Estrada do Inferno') e, num rompante, decidimos ficar por uns dias na Praia do Barranco ao visualizarmos uma placa na estrada.
O Barranco, a 20 quilômetros do Centro, tem água doce e a calma da Laguna dos Patos. É para quem deseja viver uma experiência de paz. Além da água, o que atrai os visitantes é o almoço no restaurante Beira da Lagoa. Fomos tão bem acolhidos que, ao conversarmos com uma das sócias, a Cristina, descobrimos que ela aluga casinhas simples e cabanas de madeira. Realizamos o sonho do Rômulo de ficar numa praia quase deserta.
No verão, o restaurante abre de terças a domingos, das 9h às 17h. Foi bom aproveitar a gastronomia local e as manhãs de calmaria dos dias úteis da semana, fazendo caminhadas ao longo da lagoa. Observar os pescadores enquanto bebemos um vinho branco gelado, com camarões e deliciosos bolinhos de peixe e siri, é um luxo. Sim, o luxo está no tempo em que nos permitimos viver a descomplicação que deveria permear nossa vida.
Os atrativos de São José
No Centro, ficam o comércio e boa parte das pousadas e dos restaurantes. Adoramos caminhar pelas irregulares quadras, observando os antigos prédios. Nos encantamos com a Igreja Matriz de São José, de 1860, construída com materiais trazidos de Portugal, em estilo barroco colonial com detalhes neoclássicos, e a Praça Intendente Francisco José Pereira, com um chafariz (lindo, mas desligado) e o busto de Giuseppe Garibaldi.
Percorremos pouco mais de sete quilômetros, desde o Centro, para conhecer a Praia do Mar Grosso. A calma e a tranquilidade tomaram conta de nós. Ali é possível observar a diversidade de fauna e flora e as condições do mar a tornam ideal para a prática de esportes náuticos. Nos perguntamos qual a razão de as pessoas se aglomerarem em praias do Litoral Norte quando existe um extenso litoral onde o isolamento é possível e agradável.
Nos encantamos com a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, a Torre Atalaia (de observação) e o Farol da Barra, na Povoação da Barra, um conjunto de atrativos que vale muito ser visitado. Construída em 1851, a igreja tem características da arquitetura jesuítica do século 16 e fachada simples. Seu nome é uma homenagem aos trabalhadores do mar, que cruzavam a "barra indomável", superando os obstáculos com a proteção de Nossa Senhora da Boa Viagem. Erguida em alvenaria e ferro em 1820, e desativada em 1972, a torre foi considerada a primeira obra de engenharia do RS de altura expressiva: 28 metros, em três andares. O farol, o primeiro construído no Estado, é de 1852, tem 31 metros de altura e alcance de 16 milhas náuticas.
Rodamos um pouco mais e fomos até a Quinta Secção da Barra, que abriga os Molhes da Barra — o Molhe Leste fica em São José do Norte, enquanto o Oeste fica em Rio Grande. Queríamos ver os lobos marinhos, mas teríamos de andar por mais de uma hora nesta longa obra de engenharia, pouco apropriada para caminhadas. Deixamos para os mais jovens e aventureiros. Valeu a visita. Ver o casamento das águas doces da Lagoa dos Patos com as águas salgadas do Oceano Atlântico é mágico.
Também adoramos conhecer a Barrinha do Estreito, onde o Rômulo nadou. A 35 quilômetros do Centro, ali é possível ver a água da Laguna dos Patos correndo em direção ao mar, próximo a uma mata de pinus. Pouquíssimas pessoas vão até lá e foi muito agradável nadar nestes canais.