No final do texto da coluna da semana passada, a Ivane Fávero, turismóloga, mestre e consultora em turismo e blogueira (@ivanefavero e @viajantemaduro), anunciava: a sequência do roteiro, depois da Campanha gaúcha, seria a Costa Doce. E hoje, respeitando o que Ivane e seu esposo Rômulo propuseram, publico a primeira parte dessa viagem, mostrando Tavares e Mostardas, pedacinho do Rio Grande do Sul que muitos só estão descobrindo agora, embora a região abrigue um parque nacional, o da Lagoa do Peixe, oficializado 35 anos atrás, hábitat e repouso de milhares de aves e outras espécies. O casal nos conta um pouco do que viu por lá, nessa proposta que fizeram de, respeitando os protocolos exigidos em função da pandemia, passar de dois a três meses do ano viajando. Semana que vem a gente pula, mas na outra eles terminam esse roteiro com São José do Norte. Abaixo, o texto assinado pela Ivane.
“Este território sempre me atraiu, acredito que muito por entender o que é um ‘istmo’ quando estive aqui, há muitos anos. Pensando na região, lembrei das saudosas apresentações da dupla Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, com seu Tangos & Tragédias, quando diziam que a ‘Sbørnia era grudada ao continente por um istmo... Istmo!’. Assim, desejando um pouco de sombra e água fresca, além de calmaria e segurança e o interesse por lugares históricos, fomos até Tavares. Inicialmente rumamos ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe, onde contratamos os serviços da agência Lagoa Expedições. Mas recomendamos que o tour comece por São José do Norte, cruzando a balsa de Rio Grande, seguindo por Tavares e concluindo em Mostardas, com retorno pela BR-101.”
Tavares
“Nos hospedamos no Parque da Lagoa, hotel familiar, boa estrutura, simples e aprazível. O proprietário, João Batista, é responsável pela operação da agência de receptivo Lagoas Expedições. Foi com ele que fizemos os passeios para o Parque da Lagoa do Peixe, para a Lagoa dos Patos e para três dos faróis da região. Entendemos a relevância de irmos com um guia e carro apropriado, pois, para muitos atrativos, não há estrada. Anda-se pela areia, e o carro é bem exigido (veja informações em lagoadopeixe.com.br).
Para a maior parte dos atrativos é possível ir com carro próprio. Nos encantamos com a grandiosidade e a beleza da Lagoa dos Patos, com a imensa e deserta praia de mar, com esse território tão rico em biodiversidade, porto seguro para aves migratórias (mais de 35 espécies) que fez com que se tornasse parque nacional. Nos impressionamos com as dunas de areia branca e fina e com os históricos faróis nas praias de água doce ou salgada.
A população de Tavares é de 5.850 habitantes, a maioria descendente de portugueses, especialmente açorianos. Cidade tranquila, com alguns restaurantes (na primeira noite jantamos no Skillus, simples e bom, e, na segunda, aproveitamos o Tottas Café, adoramos!), hotel, pousadas, agência de turismo receptivo e bons acessos, tanto para quem vai de Porto Alegre e passa por Mostardas (aqui há irregularidades no asfalto), quanto para quem vai por Rio Grande e toma a balsa até São José do Norte (antiga “Rodovia do Inferno”, hoje boa de trafegar).
Foi esse último o caminho que fizemos. Adoramos a experiência da balsa, com duração de 30 minutos. Há balsa de hora em hora, das 7h às 20h, mas consulte os horários no site da hidroviária para confirmar, pois pode mudar de acordo com a demanda.
Adorei o relato de seguidoras nas redes sociais dizendo que se sentiram verdadeiras deusas andando na parte superior dos carros 4x4. Mas esse é território de pessoas que buscam o contato com a ‘natureza selvagem’, como nos contou o guia João Batista. Também há os ‘birdwatchers’, os observadores de pássaros e os que buscam descanso e paz.”
Mostardas
“O centro histórico, com as casas de influência açoriana, nos leva para outros tempos. Ficamos encantados com a Igreja Matriz São Luiz Rei, construída em 1773 e restaurada em 2019.Visitamos o Farol Cristóvão Pereira, em Rincão. Gostamos muito do Balneário Mostardense, uma imensidão de mar e nenhuma aglomeração. Também conhecemos o Porto do Barquinho, em Caieira, mas o lugar não tem estrutura, apesar da bela paisagem dos canais da Lagoa dos Patos. Na volta, vimos muitas aves e até flamingos!
Também passamos pela Lagoa do Bacupari, mas, sendo domingo e em janeiro, estava muito lotada e partimos sem sequer sair do carro. Aliás, esse foi o único local, de todos os visitados, onde encontramos acúmulo de pessoas. Em geral, aqui se pratica o turismo de isolamento.”