Há um momento do dia que me causa fascínio, na minha cidade ou em viagens por qualquer parte do mundo: a hora em que o lugar acorda. Por certo você já experimentou a sensação: na abertura do Mercado Público de Porto Alegre, quando aos portas automáticas são liberadas em um shopping e você lidera a fila ou ao chegar cedinho para pegar o primeiro voo da manhã ou embarcar em um ônibus rumo ao Interior.
Estão ali só você e o ar da madrugada e de repente começa a surgir uma pessoa aqui, outra ali, uma loja se abre, um carro se movimenta, o mundo a sua volta começa a girar.
E, de repente, ainda mais se estiver num grande centro, o dia se transforma naquela azáfama, naquele burburinho que vai se aquietar só quando a noite virar de novo.
Pois nesses dias de pandemia, de medo e de confinamento, voluntário ou compulsório, não é mais assim. Minha rua acorda e dorme igual, pouca coisa se move. Assim é aqui, em Porto Alegre, como é na Itália, um dos pontos mais atingidos por esse vírus do qual queremos nos livrar logo para voltarmos a nos movimentar livremente (quem sabe melhores e mais corajosos do que agora). E é assim na Espanha e na Croácia e em qualquer outra parte do mundo.
Ontem assisti ao amanhecer em várias cidades do Hemisfério Norte por meio de câmeras ao vivo do site Skylinewebcams. Pouca diferença há entre a madrugada, o nascer do dia e do resto da jornada: um carro de polícia aqui, uma pessoa ali, pombas ciscando em praças vazias (muito provavelmente também elas sentindo a falta do alimento que já não encontram em pontos antes lotados por nativos e turistas)...
Experimente fazer esse passeio.
Há neste site câmeras de todos os continentes e de muitos países - do Brasil, dois pontos na praia de Copabacana, no Rio, dois no Rio Grande do Norte e até um na Praia do Laranjal, em Pelotas. Parecem cidades fantasmas.
Experimente olhar a Praça São Marcos, de Veneza, ou a do Duomo de Milão, na Itália, tão combalida pelo vírus. Ou na Porta do Sol, de Madri, visita obrigatória na capital espanhola. Por curiosidade, percorri também a praça que fica em frente ao Templo de Augusto, em Pula, na Croácia, onde estive numa viagem recente. Naquele sábado de outono, não havia uma mesa sequer, nos vários restaurantes que a circundam, onde pudesse ficar para tomar um café. A praça continua bonita como sempre, mas está sem gente e sem vida.
É uma viagem melancólica de um retiro necessário.