A cidade da Serra pode reservar surpresas mesmo para quem vai até lá com frequência. Costumo visitá-la uma vez a cada estação, não muito mais do que isso — às vezes só para passar o dia, conhecer um restaurante novo, dar uma voltinha. Desta vez descrita aqui na seção — inspirada no 36 Horas do New York Times —, fui em dezembro de pleno Natal Luz, que não era meu objetivo. Eu queria fugir da movimentação de turistas em massa e, acredite, consegui. Percorri Gramado e arredores pelas beiradas. Voltei só com uma frustração: nos meus planos estava conhecer a Monã _ Centro de Estudos Ambientais, no interior de Canela, mas, justo naquele final de semana, num dia não abria e no outro estava lotado. Ficou para uma próxima. Como a ideia era chegar mais cedo, desta vez a rota escolhida foi a da BR-116/RS-239/RS-115 (é que o roteiro por Nova Petrópolis, pela BR-116/RS-235, sempre me obriga a alguma paradinha). Vamos ao roteiro deste dia então:
1 - Como já confessei acima, o Cannelé Bistrot, no centro de Canela, não era a primeira opção para o almoço, mas acabou se revelando perfeita. A casa charmosinha esconde um bistrô francês igualmente querido, instalado na cidade há quase uma década e com pouco mais de meia dúzia de mesas. Almoço demorado, sem atropelos, com comida e trilha sonora superando as expectativas. Minha opção: bochecha de porco com ratatouille e purê. Fica na Rua Danton Corrêa da Silva, 307, fone: (54) 3278-1499 e facebook.com/cannelebistrot
2 - Para fazer a digestão, uma caminhada, pequena que fosse, se fazia necessária. Escolhi um lugar que, apesar de estar em Gramado há mais de uma década, eu nunca tinha visitado: o Le Jardin Parque de Lavanda (número 37.700 da RS-115), próximo ao pórtico de Gramado. A propriedade particular de três hectares e meio tem plantas exóticas, como a lavanda, loja temática, estufas de produção de flores e um café, que deve ser incrementado num futuro próximo. O acesso é gratuito e o espaço é muito apropriado para crianças terem contato com a natureza. Abre de terça a domingo, das 9h30min às 17h30min (o café e as estufas fecham às 17h).
3 - Já com a tarde avançando, achei que era hora de procurar a pousada onde me hospedaria, no interior de Gramado, por estradas nunca antes percorridas. Mesmo com indicações detalhadas, me perdi por estradinhas da Linha Tapera (só no dia seguinte, ao ir embora, me daria conta de como era fácil chegar!). Enquanto tentava me localizar, fiquei feliz por encontrar no caminho o dono de um restaurante que costumava frequentar, o Moscerino, que agora mantém o Espaço Moscerino, para cursos e oficinas de gastronomia.
4 - Cheguei à pousada a tempo de aproveitar o que seu nome oferece (Pousada La Vista). O sábado nos brindou com um pôr do sol espetacular e vê-lo da sacada foi um prêmio. O antigo sítio da família que administra a La Vista abriu como pousada em maio e é pra lá de recomendável para quem busca sossego. À noite, sons de floresta. De dia, sinfonia de pássaros e de animais domésticos criados soltos. Não se assuste: tem wi-fi e Netflix para improváveis momentos de tédio. Conforto e carinho das anfitriãs também há de sobra.
5 - Antes de voltar para a cidade, uma passada por outras atrações da Linha Tapera: a Caza Wilfrido, espaço para eventos a dois quilômetros da pousada, e a Capela Santo Antônio, cenário do filme O Quatrilho. E, um pouco adiante, uma parada rápida no Parque Tomasini para conhecer A Mina, com mais de 80 metros de túneis subterrâneos reconstituindo uma mina de pedras semipreciosas.
Há ali também um museu com exposição de mais de 850 pedras (no final, uma loja, claro). De início, achei meio fora de propósito, mas, depois, considerei que, se há atrações com pedras brasileiras pelo mundo inteiro — incluindo no prédio da ONU, em Nova York, e no Museu de História Natural em Washington, só para citar duas delas —, por que não em Gramado?
6 - O passo seguinte: almoço antes de começar a volta para casa. A dica foi da dona da pousada em que me hospedei: o Café da Banca (na Rua Venerável, 581, bairro Avenida Central, em Gramado). Quando ela avisou que os pratos eram generosos, não exagerou. Praticamente todos podem ser compartilhados. E o legal é que, enquanto a comida fica pronta, você pode circular pelo armazém e fazer comprinhas para a semana (saí com um bolo natalino delicioso e um vinho rosé de qualidade já comprovada).
Para encerrar mesmo o passeio, a saideira foi no Rhino Antiquário & Café (Av. Borges de Medeiros, 3.533). Na principal avenida de Gramado, fica longe do burburinho e o café é degustado em ambiente acolhedor, recheado de peças antigas.
P.S.: para não dizer que escapei totalmente da balbúrdia, no sábado, como ainda era cedo para o almoço, fiz uma parada na fábrica dos Cristais de Gramado, no km 36 da RS-115, em Várzea Grande. Muito diferente da primeira vez em que estive lá, anos atrás, num dia de semana qualquer. Muito maior do que eu conhecia e lotadíssima de turistas ainda ávidos por comprar lembranças de final de ano. Fiquei tempo suficiente para ver a demonstração sobre como os mestres vidreiros preparam as peças (no vídeo abaixo), ao estilo veneziano, e para comprar um anelzinho lindo, que ninguém é de ferro.