Se boa parte do dinheiro prometido aos afetados pela enchente ainda não chegou ao seu destino, não é só porque a burocracia torna tudo mais lento. As prefeituras do Rio Grande do Sul precisam ser mais ágeis. Para que as casas sejam entregues a quem teve a sua destruída, é preciso que as prefeituras encaminhem ao governo federal o cadastro e as provas de que aquela família se enquadra nos critérios. Não é crível que tenham cadastrados centenas de famílias dando como endereço o mesmo da prefeitura, como ocorreu em Guaíba e Porto Alegre.
Passados três meses da enchente que devastou Porto Alegre e dezenas de municípios da Região Metropolitana e dos vales do Sinos, Caí, Taquari e Jacuí, é inadmissível que só agora algumas prefeituras estejam contratando equipes para fazer cadastramento de famílias atingidas. Para que servem os servidores de carreira, os ocupantes de cargos em comissão, os estagiários e os terceirizados?
Quando se fala de cidades pequenas, é até compreensível que não existam servidores preparados para lidar com os complexos formulários exigidos pelos ministérios. Nas cidades médias e grandes, essa não pode ser uma justificativa.
Se os prefeitos e seus secretários ainda não entenderam que o mundo hoje é digital, está na hora de a Famurs ou da Associação Gaúcha de Municípios oferecerem treinamento para que servidores aprendam a lidar com as ferramentas necessárias.
Analfabetos digitais precisam de socorro
Nos casos em que são as pessoas que precisam fazer cadastro em sites ou aplicativos de serviços públicos, as prefeituras precisam dar atenção aos analfabetos digitais. Quem mais precisa de ajuda não tem smartphone de última geração ou não domina a tecnologia. Cabe aos municípios oferecer um balcão onde a pessoa possa resolver seus problemas pessoalmente. Nem todas têm.
O caso de Eldorado do Sul é emblemático. Uma das cidades mais afetadas pela enchentes, com mais de 80% das casas alagadas na sede, é a campeã de reclamações de pessoas afetadas que não receberam ajuda federal ou estadual porque não foram cadastradas de forma adequada.
Representantes dos governos estadual e federal reclamam do despreparo e da falta de interlocutores com quem tratar das soluções para os problemas da cidade, a começar pelo acolhimento das famílias desalojadas.