É um clássico: sempre que a popularidade de um governo cai nas pesquisas, a culpa é da comunicação. E não é que muitas vezes é da comunicação mesmo? Não do departamento que cuida das relações com a imprensa, das redes sociais, da publicidade. É da forma como os protagonistas se comunicam com a sociedade por todos os meios.
O governo Lula está batendo cabeça em busca de explicações para a queda na popularidade e de medidas para melhorar o desempenho. Na reunião desta segunda-feira (18), o tema da comunicação voltou forte. E veio do vice-presidente Geraldo Alckmin a receita mais pragmática: falta entusiasmo na comunicação. Poderia ter acrescentado que falta cada ministro estudar a fundo os assuntos de cada Estado e se comunicar com os eleitores em bom português, dando entrevistas e não deixando perguntas sem resposta.
Tome-se o caso do ministro Renan Filho, dos Transportes, ausente na visita do presidente ao Rio Grande do Sul, porque estava no Exterior. Qual foi a última vez que você ouviu uma entrevista de Renan Filho para detalhar os investimentos do Ministério dos Transportes no Rio Grande do Sul? Renanzinho talvez prefira falar a seus eleitores de Alagoas, mas o governo é do Brasil. Alguém precisa falar dos investimentos que estão sendo feitos nas rodovias sem precisar consultar o manual preparado pela assessoria.
Não pode ser o chefe da Casa Civil, Rui Costa, que trata de tudo e assim não aprofunda nada. Costa pode dar uma panorâmica do governo, mas quem vai dizer qual é o prazo de conclusão da duplicação de uma estrada é Renan. Só ele pode responder sobre os impasses na duplicação da BR-290 e dizer se para os lotes 1 e 2 haverá nova licitação ou serão chamados os segundos colocados. Dizer que a assessoria jurídica está estudando a situação do contrato é gol contra. Afinal, já se passaram 15 meses desde a posse do presidente Lula.
Jader Barbalho Filho, ministro das Cidades, especializou-se em marcar e desmarcar entrevistas, sempre com uma desculpa esfarrapada. E seu ministério teria boas notícias para dar. Camilo Santana, da Educação, é outro. Teria conteúdo para mostrar, mas se enreda nas agendas internas. Na visita a Porto Alegre, faltou clareza até na dicção para detalhar o que está fazendo, seja por iniciativa do MEC, seja em parceria com o governo do Estado.
Quem melhor sintetizou os dados positivos do governo? Alckmin. Talvez por isso Lula tenha dito que ele é o ministro de quem recebe as melhores notícias. Alckmin se empolga com os investimentos da indústria automobilística, com o avanço da indústria de baixo carbono, com a abertura de mercados no Exterior.
Há outros que precisam melhorar a comunicação, que não é responsabilidade apenas de Paulo Pimenta. Ele tem de coordenar as ações, não falar pelo governo interior. Isso é tão básico que fica difícil entender como as empresas que ganham milhões para assessorar o governo ainda não deram um toque.
Aliás
Alguém sem medo de magoar o chefe e que circule além da bolha petista precisa dizer a Lula que é mais produtivo deixar o ex-presidente Jair Bolsonaro aos cuidados da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, e tocar o governo. Bolsonaro é passado, está inelegível e está naquela fase "falem mal, mas falem de mim".