O objetivo número 1 do ex-presidente Jair Bolsonaro foi atingido. Ele conseguiu a desejada fotografia de milhares de pessoas vestidas de verde-amarelo na Avenida Paulista para um ato de apoio que em nada muda sua situação jurídica. A foto será usada nas redes sociais como uma demonstração de força, principalmente para o caso de ter a prisão decretada nos próximos dias, o que não está no radar. No discurso na Paulista, pelo menos, ele foi cauteloso o suficiente para não dar margem ao que poderia ser uma incitação à desordem. O ato foi pacífico.
No ato organizado pelo pastor Silas Malafaia ficou evidente a força de Bolsonaro entre os evangélicos, o que não é novidade para ninguém. O ex-presidente se auto-engana imaginando que reunir 100 mil, 300 mil ou 1 milhão de pessoas na Avenida Paulista significa ter a seu lado “o povo brasileiro”. O Brasil tem 215 milhões de habitantes. Se considerar os eleitores, são mais de 156 milhões. A maioria silenciosa não vai às ruas participar de protestos ou manifestações de apoio, nem milita nas redes sociais. Logo, é infantil a afirmação de Bolsonaro de que “nós podemos até ter um time de futebol que é campeão sem torcida, mas não conseguimos entender como existe um presidente sem povo ao seu lado”.
O discurso de que é um perseguido político cola entre os seguidores, mas não comove o Ministério Público nem o Poder Judiciário, nas mãos de quem está o destino de Bolsonaro, depois de ter sido flagrado no planejamento de um golpe de Estado. Ele diz que não se pode falar em golpe porque não houve “tanques nas ruas” e porque a minuta do decreto de estado de sítio estava dentro da Constituição. Ora, não houve tanques nas ruas porque o Exército e a Aeronáutica, por meio dos seus comandantes, não toparam embarcar na aventura de atropelar o Estado democrático de direito com base em teorias conspiratórias contra as urnas eletrônicas. É por tramar contra o sistema eleitoral e por tentar se manter no poder depois de derrotado que Bolsonaro será julgado. Até lá, não se pode dizer que seja culpado nem inocente. Muito menos que seus julgadores serão brandos por medo do rugido das ruas. Bolsonaro será julgado dentro da lei. O caso das jóias, citado por ele, ou do dinheiro que mandou para o Exterior, não têm o caráter de perseguição política. São fatos que ainda estão sendo investigados, da mesma forma que sua participação, mesmo que hospedado nos Estados Unidos, nos atos de 8 de janeiro.
Quem foi ao palanque na Paulista sabe que estava emprestando seu prestígio a um homem investigado por tentativa de golpe. Avaliou os riscos e concluiu que valia a pena para tentar se cacifar como herdeiro político de Bolsonaro.
ALIÁS
Anfitrião de Bolsonaro e Michelle no Palácio dos Bandeirantes, o governador Tarcísio Gomes de Freitas sai da Paulista como forte candidato ao Planalto em 2026, se o ex-presidente continuar inelegível.