Só pode ser obsessão. Com milhares de problemas para resolver, o presidente Lula insiste em perder tempo com o antecessor, Jair Bolsonaro. A última de Lula na eterna briga com Bolsonaro é um erro político primário: dizer que a eleição em São Paulo será um embate entre ele e Bolsonaro. Ora, o presidente deveria deixar a eleição para quem é candidato e não fazer esse tipo de vinculação, que apenas reaviva no país as chamas de uma disputa insana, que nada traz de produtivo.
É um direito de Lula apoiar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), que terá como vice a ex-prefeita, ex-senadora, ex-ministra e ex-petista Marta Suplicy, que está voltando para o partido depois de bater cabeça no MDB. Mas tratar a eleição da cidade de São Paulo como uma espécie de terceiro turno entre ele e Bolsonaro não tem lógica, nem amparo no bom senso, que deveria presidir as manifestações de um presidente.
Boulos não é Lula. Ricardo Nunes (MDB) não é Bolsonaro. O ex-presidente não tem sequer um candidato do PL para chamar de seu e tende a apoiar o atual prefeito. Ainda que o PL venha a lançar candidato, ele não será Bolsonaro (a menos que Eduardo, o deputado, resolva concorrer).
As pesquisas de hoje são favoráveis a Boulos, mas até a eleição faltam nove meses. É o tempo de uma gestação. E se Boulos perder para o candidato apoiado pelo governador Tarcísio Gomes de Freitas, o que dirá Lula?
O mesmo vale para Porto Alegre, onde o PT deve lançar a deputada Maria do Rosário como candidata. Não será uma disputa entre Lula e Bolsonaro, ainda que o ex-presidente venha a apoiar o prefeito Sebastião Melo, cujo vice, Ricardo Gomes, é de seu partido. O eleitor de Porto Alegre tem maturidade suficiente para saber que não estará votando para presidente da República nem para governador, mas no síndico da cidade.
Nacionalizar o debate é pura perda de tempo. Aos eleitores que vivem em Porto Alegre, interessa saber quais serão as propostas dos candidatos para melhorar a saúde, a educação, a segurança nas ruas, o estado de conservação das vias, a limpeza, o fornecimento de água e todos os serviços de responsabilidade da prefeitura.
Nas cidades do Interior, a história mostra que pesa mais a imagem do candidato do que a do partido. Sua relação com a cidade, seu compromisso com os eleitores, sua biografia. Para a eleição presidencial ainda faltam dois anos e nove meses. Quem tentar nacionalizar a eleição de prefeito vai dar com os burros n'água.