Nem os empresários que defendem o inexistente "plano C", para não cortar benefícios fiscais nem aumentar o ICMS, têm clareza de quais gastos o governo deveria cortar para fechar a conta. Há alguns anos, todos os dirigentes de federação e seus assessores diriam que era preciso privatizar estatais, fechar órgãos públicos, conceder serviços públicos ao setor privado, fazer as reformas administrativa e previdenciária, cortar penduricalhos e renegociar a dívida do Estado.
O governador Eduardo Leite traduz o plano C com outras palavras: diz que seria abrir mão de receita e precarizar os serviços públicos, o que não pretende fazer. E diz que no seu primeiro mandato fez tudo o que estava na cartilha dos empresários: aprovou a reforma previdenciária, com aumento da contribuição dos servidores para a aposentadoria e a mudança no regime, pôs em pé a reforma administrativa, que cortou vantagens dos funcionários públicos, e vendeu a CEEE, como dissera na campanha, e a Corsan, que prometera não vender.
Graças a essas reformas e um arrocho salarial que afetou a maioria das carreiras no Estado, no ranking da Secretaria do Tesouro Nacional, o Rio Grande do Sul regista índice negativo de 2,1% na variação dos gastos com pessoal em 2022. Essa tabela foi divulgada nesta segunda-feira (18) pelo governador Eduardo Leite na rede X, com o seguinte denunciado:
"Uma informação a quem quer tirar da cartola um 'plano C' de redução de despesas para garantir o equilíbrio das contas públicas: nosso governo já fez isso. Estudo da Secretaria do Tesouro Nacional mostra que o RS está entre os três Estados que reduziram despesas com pessoal em 2022".
A explicação para esse -2,1% está no arrocho salarial e na não substituição de todos os servidores que se aposentam.
Mas o que mais poderia ser cortado? O próprio Leite diz que "gasto público é como unha: precisa estar sempre cortando para evitar que cresça". O senso comum costuma apontar caminhos simplistas para reduzir as despesas, como corte de CCs (que representam uma parcela ínfima da folha), redução dos subsídios do Judiciário e dos deputados (o governo não tem poder para isso) e até mesmo as viagens do governador e de secretários a Brasília, como se fossem passeios turísticos.
Se pelo lado da despesa já não há o que cortar, para aumentar a receita a bancada do PP indica outro caminho: a regulamentação imediata da lei dos jogos eletrônicas e a ressurreição da Loteria do Estado do Rio Grande do Sul (Lotergs).