O jornalista Fábio Schaffner colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
2023 tem sido inclemente com os gaúchos. Após um início de ano assolado por uma segunda estiagem consecutiva, o Rio Grande do Sul vive nova tragédia climática, com mortes, pânico e destruição. Às enchentes de setembro se soma um volume assombroso de chuvas nos últimos dias, atingindo novas áreas e afetando quem recém começava a reconstruir a vida, sobretudo no Vale do Taquari, na Serra e na região das ilhas, em Porto Alegre.
A violência intempestiva da natureza, porém, não pode servir de eterna justificativa dos governantes para nossa lentidão ao lidar com calamidades. Em Porto Alegre, o Guaíba mais uma vez estourou a cota de três metros, mas desta vez não estavam preparados sacos de areia nem as comportas fechadas.
Surpreendida pela enchente, a prefeitura correu para acionar os mecanismos de proteção, mas a água já havia invadido as ruas do 4º Distrito. O cenário assustador ganhou ares dantescos quando peixes foram vistos debatendo-se sobre o calçamento. No fim da tarde, o nível do Guaíba chegou a 3m30cm, inferior apenas à histórica enchente de 1941.
No governo do Estado, não foi muito diferente. O governador Eduardo Leite fez um comunicado às 12h45min de sábado, alertando para deslizamentos e inundações decorrentes das cheias nas bacias hidrográficas. Na sequência, seguiu a agenda, participando da final da Taça das Favelas.
Pouco antes das 16h, voltou à Sala de Situação, desta vez sim para um aviso enfático de risco de elevação rápida do Rio Taquari, com possibilidade de repetição dos severos alagamentos de setembro em toda a região.
Com as cidades devastadas pelas enxurradas dois meses atrás, muitos prefeitos consideraram o aviso tardio. Ao reclamarem ao governador, a resposta foi de que o alerta não pode ser feito antes por receio de perda de credibilidade caso a previsão não se confirme.
— Faltou projeção. É muito vago, distante, chega muito atrasado, não é exato. A gente acaba não tendo praticamente suporte nenhum. Há também limitações de estrutura, com poucas embarcações e equipamentos seguros para lidar com essas situações — relata o prefeito de Muçum, Mateus Trojan.
Para 2024, o orçamento do Estado prevê apenas R$ 40 mil em investimentos na Defesa Civil.