O jornalista Fábio Schaffner colabora com Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Acampados sob lonas pretas à margem da rodovia, integrantes do MST clamam por reforma agrária. Perto dali, munidos de binóculos do alto de suas caminhonetes, ruralistas vigiam a movimentação. Entre os dois grupos, o Batalhão de Choque da Brigada Militar (BM) mantém a segurança do perímetro.
Parece cena da virada dos anos 2000, quando o Rio Grande do Sul vivia o ápice das tensões no campo, mas está ocorrendo agora, em Hulha Negra, na Região da Campanha. Berço de 58 assentamentos, o município não abrigava um acampamento do MST há 20 anos. Na época, a invasão das fazendas Ana Paula, em Aceguá, Capivara, em Hulha Negra, e a marcha à Southall, em São Gabriel, combinadas às vistorias do Incra para aferir a produtividade das estâncias gaúchas, tumultuaram o ambiente político no Estado.
O acampamento atual começou a ser montado na quinta-feira, com a chegada de 30 sem-terra. Eles estão instalados à beira da BR-293, em área cedida por um produtor local. O objetivo do grupo é chegar a 500 famílias nos próximos dias, para pressionar o governo federal por desapropriações na região.
Em conversas informais, os acampados dizem mirar grandes áreas improdutivas e endividadas da região, como uma fazenda de 6 mil hectares em Pedras Altas. O setor de inteligência da BM trabalha com a possibilidade de invasão de uma área de 500 hectares do governo do Estado, em Hulha, onde antes funcionava uma unidade da Fepagro. Segundo Ildo Pereira, dirigente estadual do MST, por enquanto não há ocupações à vista.
– Abrimos o acampamento para retomar o processo de luta pela terra. Primeiro vamos nos organizar aqui, não é momento ainda de discutir ocupações – afirma Pereira.
Preocupados com a movimentação, ruralistas montaram observatório a um quilômetro do acampamento, no trevo de acesso a Hulha Negra. A direção da Farsul se reúne nesta segunda-feira em Bagé para organizar o revezamento de sindicatos rurais na vigilância, já que a maior parte dos produtores está envolvida no plantio de arroz e soja. Para evitar provocações e até mesmo conflito, a BM deslocou 20 homens do Batalhão de Choque de Uruguaiana.
Os sem-terra esperavam uma visita do ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, que cumpria agenda no sábado em Candiota. Pimenta não foi ao local, tampouco recebeu os líderes do movimento. O PT teme prejuízos eleitorais e fez chegar ao MST que não é boa hora para a montagem do acampamento.
– Toda hora é hora errada – desdenhou um acampado.