Dona Gemma Balestro tem 84 anos, olhos azuis e um sorriso que conquista quem visita sua casa na entrada de Roca Sales. A residência na qual mora há 22 anos ficou debaixo d'água na enchente do Taquari. Ela só se salvou porque um rapaz amigo da família a forçou a sair quando a água começou a subir.
Espremida entre duas paredes de água — pela frente, o Taquari, pelos fundos, o arroio que subiu como nunca antes —, a casa de madeira resistiu, mas a cristaleira desabou quebrando tudo o que estava dentro, o parquê da sala descolou e o piso precisou ser trocado por outro, de cerâmica. O encontro do arroio com o Taquari formou uma espécie de pororoca, que destruiu o acesso ao centro e derrubou casas sólidas. Ainda há destroços por todos os lados.
O cheiro de lodo segue presente por toda a cidade. Dona Gemma ganhou móveis, geladeira, fogão e colchões, mas a casa ainda guarda os sinais da enchente, um mês depois da tragédia. A sala está tomada pelas roupas que as filhas ainda esperam conseguir limpar, mas ela acha que jamais voltarão a ser o que eram. Nas dobras, o lodo ficou incrustrado e não há sabão que dê conta.
Viúva, dona Gemma se consola lembrando que, felizmente, está viva, mas lembra que seu marido teria sofrido muito se visse que a água destruiu a oficina da qual ele tanto gostava.