Às vésperas de completar um mês da tragédia que arrasou o Vale do Taquari e fez deste mês que está findando um setembro de luto, é preciso destacar dois pontos positivos que emergiram da enchente: a solidariedade e a união de antigos adversários. Da solidariedade fala-se todos os dias. São tantas as doações que as autoridades tiveram de pedir um tempo porque não têm onde estocar roupas e alimentos. No momento da reconstrução, empresas se apresentam para doar materiais, mão de obra e conhecimento.
A coluna faz questão de destacar a união de forças entre políticos de diferentes partidos. Antigas divergências ficaram para trás em nome da necessidade de ajudar a socorrer as vítimas, alimentar os abrigados em ginásios, distribuir roupas e recuperar as perdas na agricultura, na indústria e no comércio.
Aquelas letras ou palavras que vêm entre parênteses depois dos nomes das autoridades para indicar a que agremiação política pertencem tornaram-se uma informação irrelevante, dado que a tragédia uniu os prefeitos, o governador e os representantes do governo federal envolvidos na operação de ajuda aos atingidos pela catástrofe.
Aos prefeitos dos municípios em estado de emergência ou de calamidade pública não se perguntou a que partido pertencem antes de anunciar ajuda. Poderiam dizer, parafraseando o desgastado slogan de campanhas políticas, que seu partido é o Rio Grande.
Na quinta-feira (28), um dia depois de conversar por mais de duas horas com o presidente Lula, em Brasília, o governador Eduardo Leite começou o dia recepcionando a primeira-dama, Janja da Silva, e a comitiva de ministros, em Lajeado, e terminou visitando áreas de risco ao lado do prefeito Sebastião Melo. De helicóptero, os dois sobrevoaram as ilhas alagadas. Pé no chão, circularam pela Vila dos Sargentos e outras áreas miseráveis de Porto Alegre.
Nessa hora, ficou para trás a disputa entre Leite e Edegar Pretto, que brigaram voto a voto por uma vaga no segundo turno. Pretto acabaria apoiando Leite, mesmo sabendo que o governador não abriria o voto para Lula, porque o PT avaliou que a prioridade era derrotar o bolsonarismo. O PT é crítico permanente do governo Leite, mas ninguém ficou resgatando ressentimentos na hora de discutir o que precisa ser feito pelas famílias atingidas.
Da mesma forma as desavenças entre o governador e o prefeito, que apoiou Onyx Lorenzoni na disputa contra Leite, foram ignoradas. O que está em jogo se sobrepõe às disputas políticas e às guerras de vaidade. Em um ano, estarão todos disputando a eleição, mas antes terão de se manter unidos no esforço de reconstrução, que passa por um programa de construção de moradias para milhares de pessoas que perderam ou nunca tiveram uma casa decente.