Encerrado o julgamento de Aécio Lucio Pereira, o primeiro réu do 8 de Janeiro, condenado a 17 anos de prisão por cinco crimes, é possível afirmar que os demais participantes da invasão dos prédios dos três Poderes não terão vida fácil. Somente os dois ministros indicados pelo então presidente Jair Bolsonaro, André Mendonça e Nunes Marques, tentaram aliviar a pena sugerida pelo relator, Alexandre Moraes, com a qual concordaram outros seis ministros.
Luís Roberto Barroso e Cristiano Zanin questionaram o enquadramento em todos os cinco crimes (cada um discordou de um), mas o resultado final é indicativo do que acontecerá com outros protagonistas daquele domingo que nunca será esquecido.
Aécio foi condenado por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado. Os dois últimos crimes foram reconhecidos até por Mendonça e Nunes Marques. O primeiro sugeriu reduzir a pena para oito anos e o segundo, para dois anos e seis meses de prisão.
Edson Fachin, Rosa Weber, Dias Toffoli, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia acompanharam o relator, o que garantiu os sete votos. Barroso sugeriu 11 anos e seis meses de cadeia e Zanin, 15.
Funcionário da Sabesp, mais tarde demitido por justa causa, Aécio foi preso no Senado pela Polícia Legislativa. Usando uma camiseta com a inscrição "Intervenção militar federal" e uma reprodução da bandeira do Brasil, gravou um vídeo sentado na cadeira de presidente do Senado e chamou colegas para saírem às ruas.
"Amigos da Sabesp: quem não acreditou, estamos aqui. (...) Olha onde eu estou: na mesa do presidente. Vai dar certo, não desistam. Saiam às ruas", incitou.
Aos que insistem na tese de que os invasores dos prédios dos três poderes eram cidadãos de bem, desarmados, velhinhas com a bíblia embaixo do braço e crianças, convém reapresentar as imagens daquele dia, gravadas por câmeras de segurança ou veículos de comunicação. Houve uma baderna generalizada, que a Polícia do Distrito Federal não se esforçou para coibir.
O plenário do Supremo Tribunal Federal foi destruído. Estátuas e quadros foram quebrados. O mesmo ocorreu no Palácio do Planalto, onde a segurança que deveria ser feita pelo Gabinete de Segurança Institucional falhou. Também lá as imagens mostram a fúria dos que rasgaram quadros, quebraram objetos e vidraças, roubaram armas e tentaram chegar ao gabinete do presidente. No Congresso, cenas semelhantes.
É por essas e outras que se pode afirmar, sem medo de errar, que o episódio foi mais grave do que a invasão do Capitólio, em Washington, por simpatizantes de Donald Trump, na tentativa de impedir a confirmação da vitória de Joe Biden na última eleição. O que se fez em Brasília equivaleria, nos Estados Unidos, a invadir o prédio do Congresso, como fizeram, a quebrar o plenário da Suprema Corte e depredar o Salão Oval da Casa Branca.