Será que agora vai? A revitalização do Cais Mauá é uma lenda tão antiga que se convencionou dizer que só pode ter um sapo enterrado em algum canto, para que nenhum projeto deslanche. Lá se vão mais de 30 anos de um projeto que, de tão mirabolante, não havia como prosperar. Previa até a construção de um hotel de luxo dentro do Guaíba.
Sugestões não faltaram nas últimas quatro décadas, mas nenhuma foi tão longe como o projeto concebido no governo de Yeda Crusius. Houve edital, licitação, assinatura de contrato e espoucar de fogos às margens do Guaíba. Uma empresa espanhola e dois arquitetos renomados — Fermín Vásquez e Jaime Lerner — davam aval a uma revitalização completa dos armazéns abandonados e em fase de deterioração. Sem poder derrubar o muro da Mauá, Lerner concebeu cortinas d’água, que iluminadas fariam o feioso protetor em caso de enchentes parecer uma cachoeira.
A empresa Cais Mauá do Brasil se instalou em Porto Alegre, captou recursos para o projeto, mudou vários pontos para torná-lo viável, mas nada fez de concreto. Sequer cuidou do patrimônio que estava sob sua responsabilidade.
Quando assumiu o governo, em 2019, Eduardo Leite decidiu rescindir o contrato por justa causa. E assim foi, não sem protesto da empresa, que a essa altura cedera um pedaço da concessão para um projeto provisório, o Embarcadero, hoje o único ponto aprazível do trecho pelo qual ninguém se interessou no edital anterior de Leite.
O novo, anunciado nesta segunda-feira (4), não tem grandes diferenças do anterior, ainda sem todos os detalhes. À primeira vista, pouco difere do modelo anterior, mas a expectativa é de que, com a economia em outro momento, apareçam interessados.