Quando já tinha setenta e tantos anos, meu pai confessou que tinha um sonho de consumo: um chapéu panamá. Tão simples e tão fácil: na primeira passagem pelo Panamá, comprei o chapéu com o selo “hecho em Equador”, que é onde são feitos os tais chapéus de palhinha. Um desejo tão simples de ser atendido, mas que ele não expressou antes porque não queria incomodar.
Foi esse chapéu que meu pai usou na nossa última viagem, no verão de 2015, quando fomos para Cachoeira do Bom Jesus — ele ainda estava com dificuldade de locomoção por causa do AVC que sofrera seis meses antes. Guardo o chapéu panamá como uma lembrança daqueles dias na praia e como um lembrete de que não podemos adiar nossos sonhos, por mais simples que sejam.
No final de março, quando perdemos o pai (às vésperas de completar 80 anos), eu e meus irmãos ficamos lamentando as viagens que não fizemos com ele. Todas possíveis, mas adiadas porque faltava tempo ou porque tínhamos algum tipo de medo bobo. Eu queria apresentar o Rio de Janeiro para ele. Sabia que se encantaria com o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a baía da Guanabara, que conhecia da TV e das conversas com seu irmão mais velho, o tio Heitor, veterano da Segunda Guerra, que na volta se instalou no Rio. Por que não fomos? Agora é tarde para ficar buscando esse tipo de resposta, mas ficou faltando esse carimbo no meu passaporte emocional.
Meu pai também queria conhecer o Pantanal. Essa seria a viagem da minha irmã Roseli, fã do Almir Sater, que desejava levá-lo para conhecer os tuiuiús, os jacarés, as aguadas e todos os animais que habitam o Pantanal. A logística não era simples e essa viagem ficou na conta das que não conseguimos realizar.
Beth, minha terceira irmã, foi quem mais viajou com nossos pais. Determinada, do tipo que não aceita não como resposta, ela só avisava para onde iriam, pegava a estrada e ia buscá-los. Foi assim que os convenceu a viajarem de avião pela primeira vez, rumo ao litoral de Pernambuco. Amaram Porto de Galinhas, as piscinas naturais, a Praia dos Carneiros, o mar sempre com aqueles 50 tons de azul. Roseli e Saulo, o caçula, foram no que chamávamos de excursão dos Oliveira. Paulo, meu único irmão que ainda mora em Campos Borges, foi o que mais conviveu com o pai. Nunca viajaram para longe, mas era o que estava sempre por perto, como faz com a mãe até hoje, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
Neste Dia dos Pais, penso no orgulho que meu pai teria quando pegasse a sua edição de fim de semana em Zero Hora e encontrasse ali, no alto da página 6, meu nome que estava acostumado a ver na coluna de Política e a frase “filha de João Alvino de Oliveira”. É uma singela homenagem de ZH a todos os pais. Aos filhos, só posso dizer neste dia: viajem com seus pais enquanto é possível, para abastecer o cérebro com lembranças que no futuro ajudarão a enfrentar a saudade.