Pessoa é um vira-lata branquinho com a cabeça caramelo. Está conosco desde os três meses. Quando chegou, não precisou de mais do que 10 segundos para conquistar a família inteira. Aquela carinha marrom tinha uma máscara branca igual a que nós usávamos naquele maio de pandemia. Eu queria chamá-lo de Chico, em homenagem ao Buarque. Meu marido achou que tinha mais cara de Pessoa. Na veterinária, registramos como Francisco Pessoa. Mas foi como Pessoa que ele ficou conhecido nas nossas redes sociais.
No final da tarde de sexta-feira (28), recebi um telefonema do Júlio, nosso caseiro, dizendo que o cachorrinho branco tinha sumido. Que quando chegou para dar comida, o Pirulito, nosso outro vira-lata, estava ansioso, procurando pelo irmão. Eles são gêmeos. Minha primeira providência foi ligar para a empresa de segurança, que imediatamente colocou fotos do Pessoa nas suas redes. A segunda foi falar com a amiga Maria Helena, a querida vizinha que sempre olha por eles. Disse que no fim da tarde anterior vira os dois brincando na beira da cerca. Contou que os raios e trovões foram tão fortes que a família dela, dentro de casa, tremia de pavor. Estava explicado. Pessoa e Pirulito têm horror a trovão e fogos barulhentos. Mesmo na casinha deles, que era a da Luiza, não deve ter se sentido seguro.
Nossa noite de sexta-feira foi de angústia e de esperança. Angústia porque o sumiço de um animal que faz parte da família dá aquele aperto no peito que só quem vive uma situação assim pode explicar. Esperança porque na virada de 2021 para 22 o Pirulito sumiu e, graças às redes sociais, foi encontrado uma semana depois.
Nossa angústia nem de longe se compara à de quem vive o desaparecimento de pessoas da família. E são milhares as que somem no Brasil todos os anos sem deixar rastro. Isso sim é uma tragédia.