Cada vez que vejo uma imagem dos oceanos repletos de plástico, penso no quanto éramos sustentáveis antes de conhecer a palavra sustentabilidade. Na minha infância rural, não existia lixo: tudo virava adubo, exceto algum prato ou copo quebrado, o que era raro, porque tomávamos todos os cuidados para preservar o pouco que tínhamos.
Antes da era do plástico, os ovos que minha mãe vendia na sede do distrito eram embalados em palha de milho. O que vinha da loja (açúcar, café e tecido) era enrolado em papel, que depois servia para acender o fogo. Galhos que caíam dos pinheiros tinham a mesma função e o carbono resultante da queima no fogão a lenha era neutralizado pela quantidade de árvores plantadas. No inverno, meu pai andava com os bolsos cheios de pinhão e ia plantado conforme identificava algum vazio no meio do mato. Hoje temos uma pequena floresta de araucárias, árvore que continuamos a chamar de pinheiros.
Restos de comida eram dados aos animais, porque nas décadas de 1960 a 1980 nem conhecíamos ração. Cascas de frutas e legumes também viravam adubo e se desfaziam antes de chegar ao riacho onde se lavava roupa e tomava banho. Tínhamos bonecas de pano, feitas com retalhos de tecido que minha mãe, costureira talentosa, tudo reaproveitava.
Sal, açúcar e adubo vinham em sacos de algodão que, depois de muito bem lavados, viravam roupas de cama, toalhas de mesa, panos de prato, pijamas, calças e camisas. O poliéster só conheceríamos depois, no início da era do plástico, com o nome de tergal ou volta-ao-mundo. Antes, o algodão era soberano. Quando as roupas já não serviam para vestir, viravam panos de chão.
Os primeiros objetos de plástico eram chamados de “matéria”. Os baldes de alumínio, que não terminavam nunca, foram substituídos pelos de plástico. Em vez de colher rosas, palmas e cravos para enfeitar a casa, compravam-se flores de plástico, que não murchavam nunca, mas não tinham alma nem perfume. Tudo se transformou a partir da década de 1970 na nossa aldeia e no mundo todo. Daí a poluição que infesta os mares, os lixões, os aterros sanitários, os rios em que não se pode tomar banho, os produtos de “matéria” que levam 400 anos para se decompor.