O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
O que era para ser uma reunião burocrática entre o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos Bulhões, e o secretário de Habitação de Porto Alegre, André Machado, se transformou numa visita inusitada na quinta-feira (13). Bulhões se reuniu com Machado na sede do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) para tratar de um termo de cooperação entre prefeitura e UFRGS, mas acabou sugerindo ao secretário para que visitassem juntos a Rua da Represa, área de risco "muito alto" da Capital.
A visita à região do Arroio Moinho, canal que corta o bairro Coronel Aparício Borges, na Zona Leste, não é aleatória. Antes de ser reitor, Bulhões atuava como professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS e chegou a trabalhar na elaboração de um projeto de intervenção para a Rua da Represa. Por isso, queria conferir de perto como está a situação do local atualmente.
Com chuva e ainda sob os efeitos do ciclone, Bulhões e Machado caminharam pela região e fizeram observações sobre as intervenções necessárias para tornar a área mais segura para os moradores que vivem nos arredores do arroio. De uma forma geral, a situação está menos precária do que estava há alguns anos, avaliou o reitor.
Para evitar que novas tragédias ocorram na mesma região, a prefeitura buscará um financiamento para tornar a área mais segura. Mas é possível que, em alguns casos, a saída dos moradores seja a única solução.
— Nós trabalhamos primeiro com a possibilidade de permanência. As pessoas vão ocupando morros, escavando, e isso deixa a terra instável. Eu posso fazer uma contenção para aquela terra não cair, com cimento, tela ou vegetal. Mas quem está morando praticamente dentro do arroio não vai poder ficar ali — explica Machado.
O coordenador da Defesa Civil municipal, coronel Evaldo Rodrigues Júnior, e a secretária-adjunta de Habitação, Simone Somensi, também participaram da visita.
Duas pessoas morreram nos últimos seis anos na Rua da Represa. A primeira vítima foi Carine Gonçalves, 35 anos, que durante um temporal em 8 junho de 2017 foi arrastada junto de sua casa pelo arroio. No caso mais recente, em agosto do ano de 2022, Daner Hernandez Silva, 45 anos, ajudava familiares a deixarem suas casas em meio a um temporal quando caiu na água e morreu afogado.