A decisão do governo Lula de suspender temporariamente a implementação do Novo Ensino Médio é uma espécie de capitulação diante do fracasso de uma iniciativa aprovada em 2017 e que teria cinco anos de preparação. A verdade é que já estamos em abril do que seria o primeiro ano do novo modelo e não há consensos mínimos, exceto o de que do jeito que estava não podia continuar. O Novo Ensino Médio, porém, não conseguiu engajar professores e alunos, talvez porque tenha faltado comunicação na maioria dos Estados. Mas é na conta da pandemia que recai a culpa por não se ter conseguido, em cinco anos, preparar as escolas para essa novidade que, no mérito, tem erros e acertos.
Convém esclarecer de pronto que o governo não tem poder para revogar, com uma portaria, lei aprovada pelo Congresso. Se quiser mudar tudo, terá de propor um novo projeto e submetê-lo à Câmara e ao Senado. A tendência, no entanto, é que se tente corrigir os pontos que enfrentam maior resistência, em vez de começar tudo do zero e perder mais cinco ou 10 anos, empurrando para fora da escola ou da realidade do século 21 mais duas ou três gerações de estudantes.
O próprio ministro da Educação, Camilo Santana, já se manifestou incontáveis vezes contrário ao que no popular se chamaria de “jogar a criança fora com a água do banho”. Ex-governador do Ceará, um dos Estados com melhores resultados na Educação, Santana é adepto da correção de rumos, para que se ofereça aos estudantes um Ensino Médio mais qualificado e sem o abismo que, na maioria dos casos, separa as escolas públicas das particulares.
As secretarias estaduais de Educação deveriam, em primeiro lugar, ter focado no convencimento dos professores para a necessidade da mudança a na formação, para eliminar os ruídos. A pandemia, com dois anos de escolas fechadas e tentativas de adaptação ao modelo remoto ou híbrido, retardou essa preparação. O próprio conceito de “trilhas formativas”, que ocupariam parte do currículo de acordo com o interesse dos alunos, parece não ter sido bem compreendido por estudantes e professores. Aqui nem se fala dos pais, já que só uma parte se engaja de fato na vida dos filhos — uns porque verdadeiramente não se consideram aptos a dizer o que é melhor para os seus.
A suspensão temporária cria um vácuo para o ano de 2023. O governo ainda não editou a portaria e nela deverão estar respostas para perguntas cruciais. Exemplos: Como ficam as escolas que se prepararam para o Novo Ensino Médio e já começaram a implementá-lo? Dão um passo atrás? O que será feito dos professores treinados para a mudança? Como os alunos serão reenquadrados? Escolas públicas seguirão o caminho de instituições privadas, que encontraram um jeito próprio de seguir fazendo o que já faziam, criando trilhas formativas focadas na aprovação do vestibular e do Enem? E o novo Enem?
Aliás
Se há uma coisa da qual ninguém duvida é que país nenhum pode evoluir na educação quando a maioria dos alunos sai do Ensino Médio sem saber o mínimo de matemática, ciências e das regras do idioma. No Brasil, o que se tem ao final do ciclo é, além de altos índices de evasão, uma maioria de analfabetos funcionais condenados ao subemprego.
Tarso sincero
Com a autoridade de quem foi ministro da Justiça, da Educação e do Conselhão e tem sólidos conhecimentos jurídicos, o ex-governador Tarso Genro é um dos poucos petistas a dizer publicamente que o presidente Lula poderá não designar o advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Perguntado no Twitter se seria uma boa ideia Lula indicar seu advogado para o STF, Tarso não titubeou: “Não creio que seja. E acho que não o fará”.
Tudo perdido
Em outro post, comentando a informação de que Lula estaria disposto a reconduzir Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República em troca do apoio de bolsonaristas a indicação de Cristiano Zanin para o STF, Tarso foi ainda mais incisivo: "Nada contra Zanin, mas se esta 'negociação' vingar é porque tudo está perdido".
Passo atrás
Suplente de vereador que tenta a titularidade desbancando Marcelo Sgarbossa, Adeli Sell (PT) escolheu outro alvo para sua ira contra tudo o que pareça moderno: o South Summit.
Crítica é uma coisa. Ranço, é outra — e talvez explique o resultado nas urnas.