Escaldado pela experiência de 2015, quando o PT resolveu desafiar Eduardo Cunha na eleição para a presidência da Câmara e ele se vingou abrindo o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o presidente Lula nem cogitou negar apoio a Arthur Lira (PP-AL). A frente montada por Lira para se reeleger, que reuniu lulistas, bolsonaristas e deputados sem vínculo com os dois mostrou que o alagoano tem a força e sabe como usá-la.
Um dos principais líderes do centrão, Lira foi unha e carne com o ex-presidente Jair Bolsonaro nos últimos dois anos, mas decidiu não se enterrar com ele. Primeiro, não embarcou na obsessão bolsonarista do voto impresso. Segundo, deu seu aval ao processo eleitoral, expressando confiança na urna eletrônica, e foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Lula.
Na PEC da transição, entendeu a necessidade do governo de encontrar um mecanismo legal para bancar compromissos como a Bolsa Família de R$ 600 e arrancou um compromisso do governo com sua eleição. O PT não ousou lançar candidato.
Os adversários que surgiram - Chico Alencar (PSOL) e Marcel Van Hattem (Novo)- não fizeram nem cócegas. A votação obtida por Lira, 464 votos, é a mais exuberante conquistada por um presidente da Câmara.
Esse histórico significa que o presidente da Câmara se comportará como aliado do governo? De jeito nenhum. Lula, como todos os demais presidentes, é refém do centrão em geral e de Lira em particular.
O deputado conhece as regras do jogo do poder e sabe usar as cartas a seu favor.