O colégio eleitoral era de 81 senadores - e só a eles cabia escolher o presidente do Senado. O mineiro Rodrigo Pacheco (PSD) foi reeleito com 49 votos, mostrando que rede social, fake news e cartazinhos impressos em série com a inscrição “Fora Pacheco”, exibidos por deputados, não ganham uma eleição complexa como a do Senado. Pacheco era o favorito desde o início, mas o barulho produzido nas redes sociais pelos aliados do senador Rogerio Marinho (PL-RN) passou a ideia de que ele tinha chance por ser o escolhido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A manipulação chegou a tal ponto que dois dias antes da eleição quem colocasse o nome de Marinho no Google encontraria em primeiro lugar uma notícia falsa de que ele tinha sido eleito presidente do Senado.
Até o governo do presidente Lula acreditou que Marinho era mais forte do que se mostrou ser e mobilizou suas forças para garantir a eleição de Pacheco, distribuindo cargos e promessas. Os bolsonaristas apostaram nas traições e em uma campanha difamatória contra Pacheco, apresentando-o como marionete do Executivo e do Judiciário. Não colou.
A vitória de Pacheco produz alívio no Executivo e no Judiciário. No Executivo, pelo poder que tem o presidente do Senado de facilitar ou de trancar votações. No governo Bolsonaro, Pacheco agiu de forma republicana e facilitou a aprovação de projetos, mas caiu em desgraça com o bolsonarismo ao arquivar os pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.
Não só por isso Pacheco tem a simpatia da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Nos ataques do dia 8 de janeiro, o senador uniu-se ao Executivo e ao Judiciário na condenação dos atos golpistas. Em outros momentos, fez declarações contundentes em apoio à democracia e ao Estado democrático de direito.
O resultado da eleição não pode ser entendido como um terceiro turno vencido por Lula em disputa direta com Bolsonaro. Pacheco venceu por ele mesmo: pela forma equilibrada como presidiu o Senado nos últimos dois, pela sua capacidade de articulação e pela serenidade que o cargo exige.
Aliás
É falsa a impressão transmitida pelos envolvidos no processo de que a eleição no Senado mobilizou o Brasil inteiro. Mobilizou militantes, mas a grande massa da população sequer sabe o que faz o Senado e quais seriam as consequências da eleição de um ou de outro.
Balão murcho
Eram favas contadas que a candidatura do senador Eduardo Girão (Podemos) à presidência da Casa não sobreviveria. O falastrão, que ficou conhecido pelos disparates na CPI da Covid, não conseguiu sequer o apoio dos companheiros de partido.
Girão registrou a candidatura, mas encerrou o discurso de candidato anunciando apoio a Marinho.
Mudança constitucional
No dia em que tomou posse como deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul em 2022, o tenente-coronel Luciano Zucco (Republicanos) protocolou proposta de emenda à Constituição ampliando os poderes da Câmara para analisar pedidos de impeachment de autoridades da República. A proposta só irá adiante se Zucco conseguir a assinatura de 171 deputados.
Hoje, a Câmara só vota a abertura de processo de impeachment do presidente da República e do vice. Pela proposta de Zucco, os deputados também poderão abrir investigação contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Procurador-Geral da República, Advogado-Geral da União (AGU), integrantes do Conselho Nacional de Justiça e do Ministério Público.
Assédio moral
Aviso aos prefeitos desavisados: obrigar servidores públicos ou ocupantes de cargos de confiança a interagir e espalhar suas postagens nas redes sociais é assédio moral.
Aconteceu em uma prefeitura da região metropolitana de Porto Alegre: servidores e CCs foram reunidos em uma sala e ali receberam a orientação para curtir, comentar e compartilhar postagens do prefeito.
Como foi uma orientação falada, a coluna não citará o município, mas o alerta vale para todos.